Segundo São Marcos os doze Apóstolos voltaram radiosos de sua primeira
missão (Mc 6,33-34). Pregaram a conversão, expulsaram demônios e
curaram doentes em nome do Senhor Jesus. Estavam fatigados, mas uma
multidão vinha para ver Jesus e conversar com Ele. Cristo então levou
seus discípulos para um lugar deserto, tranquilo, longe do bulício
reinante. Momentos felizes junto do Mestre divino para uma prece
fervorosa, hábito salutar que Ele desejava inculcar a seus discípulos.
E era a melhor maneira de fazer repousar seus missionários. Não um
repouso banal, uma mera parada para esquecer todos os cuidados e todo
cansaço. Aqueles discípulos estavam junto dele para O escutar e para
tudo Lhe confiar, usufruindo todo o descanso que Ele oferece a todo
aquele que se volta confiadamente para Ele. Ele prometeu: “Vinde a mim
todos que penais sob o peso do fardo e eu vos darei o repouso Tomai
sobre vós meu jugo e aprendei de mim que sou manso e humilde de
coração e assim encontrareis conforto para vossas almas, pois o meu
jugo é suave e o meu peso é leve (Mt 11,28-30). Os doze Apóstolos
felizes na escola de Jesus, escutando suas novas diretrizes e Lhe
narrando tudo que haviam feito como Ele ordenara. Era isto que ocorria
na barca que os levava para a outra margem, visando prosseguir aqueles
momentos de salutar tertúlia do Mestre com seus missionários.
Entretanto, muitos pressentiram para onde Jesus se dirigia com seus
apóstolos e quando eles desembarcaram depararam uma multidão que já se
encontrava no lugar onde deveria reinar tranquilidade e um silêncio
repousante. Ali estavam doentes, pobres desejando cura e consolo e
também muitos sequiosos de ouvir as palavras maravilhosas de Cristo
sobre o Reino dos céus. São Marcos registrou então a reação de Jesus:
que “viu aquela grande multidão e condoeu-se dela, porque eram como
ovelhas sem pastor”. Encheu-se de compaixão o coração amoroso de Jesus
e uma piedade imensa tomou conta deste coração diante do que então
acontecia. Eles não tinham minguem para os guiar, para lhes oferecer
felicidade, para os orientar, para lhes transmitir esperança, fazendo
brilhar para eles raios de expectativa de dias melhores. Jesus se
lembrou das palavras do profeta Jeremias quando Deus prometia a seu
povo pastores dignos deste nome: “Juntarei depois os restos de minhas
ovelhas de todas as regiões, para onde eu as tiver deixado lançar e as
reconduzirei a apriscos, onde, proliferando, crescerão. Estabelecerei
sobre elas pastores que as apascentarão, não terão mais temores, nem
apreensões e não se perderá nenhuma, diz o Senhor (Jer 23,3-4). Ali
estava então Jesus, o Pastor por excelência a lhes dar o essencial, ou
seja sua palavra divina, a lhes transmitir as verdades eternas.
Ninguém falaria mais belamente do Pai e das realidades eternas. Ele
era o Bom pastor que daria sua vida pelas suas ovelhas. É preciso,
portanto, como Jesus, compadecer cada um daqueles que estão longe de
Deus, como ovelha sem um guia seguro. Isto através da palavra, do
exemplo, das preces, de um apostolado ardente, zelo pela salvação de
todos, discernindo perante todos o essencial do acessório. A começar
pelo testemunho de vida lá onde Deus o colocou e, na medida do
possível, se engajando em algum movimento de apostolado, ajudando na
evangelização no meio em que vive. Através de todos aqueles que
procuram estar em união com Ele, Jesus continua a ter compaixão dos
que estão fora dos caminhos do bem e da virtude, em situações que
precisam de amparo espiritual. Estar sempre unido a Deus, para O levar
aos que dele se apartaram. A vida do cristão deve ser ritmada pelo
desejo de espalhar a virtude por toda a parte num interesse constante
pelo bem espiritual próprio e dos outros, numa visão iluminada pela fé
na vida eterna. Jesus mandou os doze apóstolos a evangelizar, mas
depois os levou ao descanso da prece junto dele. Cada um deve estar
atento, pois a qualquer momento o Senhor o tira de suas tranquilidades
para o bem do próximo que deve ser envolvo na compaixão do Filho de
Deus a chamar para os caminhos da conversão própria e dos irmãos.
Trata-se da abertura da vida divina dentro de si e na existência
daqueles com os quais se convive. Não se está nunca sozinho neste
mundo, mas temos que ter consciência de que participamos de uma
aventura coletiva. Somos responsáveis uns pelos outros. Deus não pode
estar em nós se Ele não se acha entre nós. Trata-se da solidariedade
cristã que é o fundamento de todo apostolado. Há sempre alguém que
reclama atenção, uma criança que chora, um trabalhador que clama por
um salário melhor, um jovem que está perdido em suas ilusões, enfim,
pessoas nas mais variadas circunstâncias que precisam de apoio, de uma
palavra de conforto, de luzes para uma nova vida. O campo do
apostolado é imenso e a todos se deve levar a compaixão de Jesus.”
Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.