No capítulo quarto de seu Evangelho São Marcos oferece uma série de parábolas sobre o Reino de Deus. Esta maneira de falar em parábolas era uma característica do ensinamento de Jesus às multidões e aos discípulos. Desta maneira o Mestre divino levou a compreender o mistério do Reino de Deus, oculto aos orgulhosos, mas que se revelava aos pequeninos e humildes de coração. Nas duas parábolas do semeador e do grão de mostarda há um duplo aspecto que merece especial atenção (Luc 4,26-34). Apelo a fazer qualquer coisa, como o semeador a semear a tempo e a contra tempo, com perseverança, a Boa Nova do Evangelho, mas também apelo a fazer isso sem inquietude, sem se culpabilizar, porque como Jesus falou, ¨quer se dorme ou se levanta, a semente germina, cresce, não se sabe como”. É preciso crer que o Evangelho é a semente lançada pelo Filho de Deus nos corações e traz consigo mesmo um princípio de desenvolvimento, uma força que a levará a seu completo acabamento. A semente da Palavra de Deus está na Bíblia e vem a todos também através dos comentários que sobre ela são feitos por escrito ou oralmente e cada cristão então pode se tornar também um semeador cooperando com seu Senhor do qual se torna servidor. Tudo isto com muita fé e esperança, amor e perseverança dado que toda a energia vem do alto. Através dos tempos o mundo se mostra refratário, resistente e até mesmo hostil ao anúncio do Evangelho, mas o pequeno grão tem germinado não se sabe como e o minúsculo grão do Reino de Deus pode até se tornar uma grande árvore. Formidável é o poder de Deus oculto num germe da vida. Paciência, verdadeira energia do Espírito, trabalho invisível até chegar os tempos das colheitas. Cumpre, entretanto, não se esquecer que é próprio da fé crer e esperar. O semeador crê na colheita que há de vir. Quando se semeia não se sabe ainda como será a colheita final, mas se semeia porque se crê na potência da Palavra de Deus. A semente vem do céu até o ser humano que depois a espalha por palavras e exemplos. Com a graça de Deus a sua Palavra, semente divina, mais hora menos hora, produzirá resultados maravilhosos.
Apenas Deus sabe a quantidade de frutos que virão. Quem ouve a Palavra de Deus ou depois a semeia não deve querer resultados imediatos, pois poderá ficar decepcionado. Os precipitados entram sempre no rol dos desiludidos. Quem recebe a semente da Palavra divina e a semeia entrega o tempo a Deus sem se preocupar com a quantidade da produção que ao Senhor pertence. Ele não impõe uma quota, mas ordem “Semeai”!
Acolher ao máximo a semente de Deus dentro de si mesmo e semear tudo que possa, tanto quanto se pode, até mesmo o pouco que se tenha, porque o mais pequenino grão pode se tornar uma planta frondosa.
Recebida, porém, a palavra de Deus e, em seguida, a semear, o importante não será possuir muita sabedoria teológica, mas o principal, isto sim, é ter muito amor a Deus, distribuindo os grãos recebidos do Senhor no campo, isto é, onde cada um vive e trabalha.
Nunca se deve esquecer que o Reino de Deus consiste na Santidade e na Graça, na Verdade e na Vida, na Justiça, no Amor e na Paz, como proclamamos no Prefácio da solenidade de Cristo Rei. Este reino se faz realidade, em primeiro lugar, dentro de cada um, para em seguida ser espalhado mundo todo. Na alma de cada cristão Deus pelo batismo semeia as sementes celestiais. Cabe ao batizado possibilitar que estas sementes germinem, cresçam e, deste modo, elas se multipliquem em boas obras de serviço e caridade, de amabilidade e de generosidade, de sacrifício, dando frutos de felicidade para todos com quem os discípulos de Cristo convivem. Deste modo, o Reino de Deus se estende dentro das famílias, nas cidades, em toda a sociedade. Esta fica então iluminada pela verdade e retificado se torna o caminho que leva ao céu, tudo penetrado pela força da graça, iluminado pela luz da verdade. A semente começa pequenina como um grão de mostarda quando é semeada na terra. Depois, porém de semeada cresce e pode até ultrapassar todas as hortaliças. Como no tempo dos primeiros cristãos, Jesus pede que hoje em dia espalhemos seu Reino nesse mundo. O Reino de Deus é poder, superabundância de vida. A semente germina por si mesma, mas precisa cair em terra boa. O semeador pode se distanciar, podem vir a noite e o dia, porém, como diz o salmo 125, o Senhor é o protetor de quem nele confia. A imagem do desenvolvimento do Reino de Deus reflete bem a grandeza em que vive o cristão, realidade que o ultrapassa mas que deve ser usufruída em plenitude. Excede sempre o ser humano, mesmo porque o Reino de Deus não fica confinado nesta terra, mas é algo a ser gozado por toda a eternidade.
Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.