O retorno do filho pródigo

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Conhecedor dos segredos do coração humano Cristo mostrou o maravilhoso processo da conversão, acentuando a grandeza da misericórdia divina (Lc 15,1-32).

Infelizes são aqueles que se deixam levar por uma liberdade ilusória, buscando longe da sabedoria paterna a verdadeira felicidade. Apesar disto, aquele que toma consciência de sua humilhante escravidão e se arrepende sinceramente pode reaver a riqueza malbaratada.

A percepção do engano cometido, o pesar pelo erro no qual se envolveu e o retorno para uma nova vida são os passos de quem se contaminou nas mazelas dos vícios, passando a abominar os deslizes cometidos. Deus é bom, é misericordioso e se dispõe sempre a perdoar Não despreza nunca um coração humilhado e arrependido. É generoso, é magnânimo. Na admirável descrição da parábola do filho prodigo uma nova vestimenta, o anel, um banquete festivo são os sinais de uma existência renovada, digna, repleta do genuíno júbilo.

Deus é como o pastor que, extraviada a ovelha, vai a seu encalço e, jubiloso, a salva. Ele se assemelha a alguém que tendo perdido uma moeda de sumo valor tudo faz para encontrá-la e extravasa então sua alegria. Belas imagens do regozijo que ocorre no céu quando um pecador se converte.

No regresso do filho pródigo é de se notar que à exultação do pai contrasta com a atitude do filho mais velho indignado com a festa promovida para comemorar a volta daquele que estava perdido. Ele se revela um juiz impiedoso de seu irmão e, além do mais, sua conduta não era filial, pois recrimina o pai que no seu modo de ver não valorizava sua fidelidade.

Com muita paciência o pai lhe explica, dizendo: “Tudo que é meu é também teu”. Isto significa que a relação do filho mais velho era de um mero serviçal que não sabia usufruir dos bens paternos que eram também seus. Por certo se ele tivesse, por exemplo, pedido ao pai o que fosse necessário para banquetear com seus amigos, o pai lhe daria. É que, além disto, perante o filho que retornara ele se mostrava como pai e não como juiz.

É bem o que acontece com tantos cristãos que estão cumulados de bens espirituais e, ao invés de desfrutar dos mesmos, penetrando fundo na generosidade divina passam a vida a lamentar, cegos perante tanta grandeza em seu derredor. Vivem a condenar os outros e a recriminar a Deus pela sua clemência para com os que erram. Todos somos irmãos porque filhos do mesmo Pai que está no céu, aquele que dá a verdadeira vida em Jesus Cristo, querendo sempre a conversão do pecador para que ele viva e se salve.

O filho mais velho exaltava orgulhosamente sua obediência que, na verdade, carecia de uma total confiança filial. Para ele esta submissão era um fardo e não uma graça, da qual, aliás, ele não sabia gozar. Para deleitar-se com o Senhor é preciso encontrar o justo lugar junto dos irmãos e do Pai, fonte de amor. Alegria sempre pela conversão dos náufragos espirituais. Se por um lado, nunca se deve agir como o filho pródigo, também é preciso não ter a atitude do filho mais velho, mas reconhecer feliz somente aquele que tem o amor de Deus que vale mais que todas as fortunas. Quem tem consciência desta dileção divina tem tudo. É preciso, porém, saber estimar o valor da intimidade com Deus.

Se não foi louvável a autonomia do filho mais novo, a falta do verdadeiro espírito filial daquele que não se afastara do lar paterno não foi menos lastimável.

É preciso avaliar continuamente como é que se está comportando perante Deus, mesmo porque é através do reconhecimento interior de sua paternidade amorosa que cada um pode e deve crescer, explorando todos os recursos espirituais que Deus coloca ao alcance de todos que lhe são fiéis.

Nunca se deve estar contente com uma dinâmica espiritual que leve a uma rotina no cumprimento dos deveres religiosos. Saibamos sempre abrir as portas da casa paterna para os que a abandonaram e valorizar a felicidade de estarmos juntos de Deus que deve ser filialmente amado. 


Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos

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