O grande poeta convertido Paul Claudel afirmou: “Fátima é o maior evento religioso da primeira metade do século XX, a explosão transbordante do sobrenatural neste mundo aprisionado pela matéria”. Em momento dramático da história da humanidade, em plena Primeira Guerra Mundial e às vésperas da revolução bolchevique na Rússia, aquela que Jesus crucificado nos deu por Mãe (cf. Jo 19,26-27), a Virgem Maria, vem em socorro da humanidade ferida pelo pecado e pela morte, manifestando-se a três crianças, os pastorzinhos Lúcia (10 anos), Francisco (9 anos) e Jacinta (7 anos), com mensagem profética e misericordiosa. Francisco e Jacinta foram beatificados por São João Paulo II e o Papa Francisco marcou a canonização de ambos para o dia 13 de maio de 2017. A Serva de Deus Irmã Lúcia, falecida bem mais tarde (2005), teve o seu processo de beatificação e canonização iniciado no pontificado do Papa Bento XVI (2008). Terminada a fase diocesana do processo, aguarda-se agora a palavra final da Santa Sé.
Os acontecimentos de Fátima atestam o contínuo cuidado de Deus para com a humanidade, agindo na história para a nossa salvação e a edificação do Reino de Deus. Num momento particularmente difícil, Deus envia a Virgem Maria aos pastorzinhos, em mais uma clara demonstração de seu amor misericordioso. Em 1916 o “Anjo da Paz” ou “Anjo de Portugal” conforme se autodefiniu, prepara as três crianças, em três manifestações, para as aparições de Nossa Senhora que se dariam em 1917. Ensina a crianças analfabetas belas e ortodoxas orações com perspectiva trinitária e voltadas para a salvação da humanidade, com referências às virtudes teologais da fé, esperança e caridade, ao sacramento da eucaristia, à devoção ao Sagrado Coração de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria, bem como a prática do sacrifício pela salvação dos pecadores.
No domingo 13 de maio de 1917 acontece a primeira das aparições de Nossa Senhora aos pastorzinhos na Cova da Iria por volta do meio dia, quando pastoreavam o rebanho. As crianças tinham feito pequena refeição, rezado o terço e brincavam. Houve um brilho extraordinário na atmosfera e as crianças pensaram que fosse um relâmpago anunciando uma tempestade. Reuniram o rebanho e preparavam-se para retornar a suas casas, quando novo raio de luz fez com que se abrigassem ao lado de moitas de azinheiras. Numa delas, de um metro de altura, em meio a luz clara e brilhante, vêem uma pessoa que as chama. Assim resumiu-se os depoimentos dos videntes: “Parecia não ter mais de 18 anos. Sua túnica tinha a candura da neve. Diga-se o mesmo do manto com beiradas douradas, que lhe cobria a cabeça e a maior parte do corpo (…). Das mãos juntas à altura do peito caía-lhe um gracioso rosário, que terminava com uma cruz de ouro”. Nossa Senhora acalma as crianças e pede que voltem àquele lugar no mesmo dia e horário, durante os meses seguintes até outubro, totalizando seis aparições. Anuncia ainda que voltaria uma “sétima vez”. Recomenda às crianças a prática da reparação e a recitação do rosário.
O Cardeal Cerejeira, Patriarca de Lisboa, pronunciou a célebre frase: “Não foi a Igreja que impôs Fátima, mas foi Fátima que se impôs à Igreja’. Aos 31 de outubro de 1942, o Papa Pio XII consagrou o mundo ao Coração de Maria. O Beato Papa Paulo VI foi o primeiro pontífice romano a visitar Fátima como peregrino a 13 de maio de 1967, quando se celebrava os 50 anos da primeira aparição da Virgem aos pastorzinhos, afirmando em sua homilia: “Tão grande é o nosso desejo de honrar a Santíssima Virgem Maria, Mãe de Cristo e, por isso, Mãe de Deus e Mãe nossa, tão grande é a nossa confiança na sua benevolência para com a santa Igreja e para com a nossa missão apostólica, tão grande é a nossa necessidade da sua intercessão junto de Cristo, seu divino Filho, que viemos, peregrino humilde e confiante, a este santuário bendito, onde se celebra hoje o cinquentenário das aparições de Fátima e onde se comemora o vigésimo quinto aniversário da consagração do mundo ao Coração Imaculado de Maria”. O Papa São João Paulo II visitou Fátima por três vezes: 1982 (um ano após o atentado sofrido na Praça de São Pedro no Vaticano), em 1991 (dez anos após o atentado) e no ano 2000, quando beatificou Francisco e Jacinta Marto, pronunciando as palavras: “Eu Te bendigo, ó Pai, por todos os teus pequeninos, a começar da Virgem Maria, tua humilde Serva, até aos pastorinhos Francisco e Jacinta. Que a mensagem das suas vidas permaneça sempre viva para iluminar o caminho da humanidade”. O Papa Bento XVI visitou Fátima em 2010, dez anos após a beatificação de Francisco e Jacinta. E o Papa Francisco visita Fátima e canoniza os Beatos Francisco e Jacinta no dia 13 de maio de 2017, no centenário da primeira aparição da Virgem Maria em Fátima.
A mensagem de Nossa Senhora em Fátima convida à reparação, à oração e à consagração ao Imaculado Coração de Maria. O convite tem significado social. Apela à confiança em Deus como Senhor da história, bem de acordo com a espiritualidade bíblica, alimenta a consciência da solidariedade humana, superando o individualismo e a exclusão social, enfatizando a condição dos cristãos de membros do Corpo Místico de Cristo, chamados a viver o amor fraterno de acordo com a graça batismal que nos constitui povo sacerdotal, profético e servidor. A mensagem de Fátima fundamentalmente atualiza de forma profética, em hora dramática da história da humanidade, a mensagem salvífica da Revelação Cristã expressa nas Sagradas Escrituras.