Ao celebrarmos a Solenidade da Assunção da Virgem Maria de corpo e de
alma ao céu recordamos que todo esplendor que envolve este glorioso
dogma de nossa fé procede da profunda humildade da Mãe de Jesus. Ao
ensejo da Visitação de Maria a sua prima santa Isabel no seu belíssimo
hino o “Magnficat” ela, num instante de pulcra inspiração, afirmou que
Deus olhou para a humildade de sua serva (Luc 1, 39-56). São Bernardo
nos diz que a Virgem subindo ao céu aumentou consideravelmente a
felicidade de quantos já lá estavam. Este santo ajunta estas palavras
preciosas: “Nossa terra oferece ao céu um presente valiosíssimo, para
selar com este fato uma aliança feliz entre o mundo humano e o mundo
divino, a terra e o céu. O melhor fruto da terra subiu até os
lugares donde descem os dons e as graças. Estabelecida nas alturas, a
Virgem bem-aventurada, de sua parte ofereceria presentes aos homens.
O primeiro dom que ela faz chegar até nós é a Palavra que ela soube
guardar fielmente no seu coração, fazendo frutificar depois seu
silêncio acolhedor. Com esta Palavra no seu espaço íntimo, no seu seio
imaculado, ela gerava a Vida para todos os homens e foi quando Ela se
pôs a caminho para uma cidade de Judá, entrou na casa de Zacarias,
saudou Isabel e então raiou o júbilo. Tanto que Isabel que estava
grávida de João Batista lhe diz:” Logo que eu escutei tuas palavras de
saudação, o menino vibrou de alegria dentro de mim (Lc 44). Maria
então brindou a humanidade com um dos mais belos hinos registrados na
Bíblia: “Minha alma exalta o Senhor, meu espírito exulta em Deus meus
Salvador (Lc 1, 46-47). Que sublime presente o céu nos deu com o
Cântico de Maria. Neste Cântico encontramos os elementos para
compreender como o humano e o divino, o terrestre e o celeste se
mesclam e podem assim reagir. O dom de Deus aos homens e um presente
da humanidade para Deus. A humildade que contemplamos em Maria é
condição basilar para ascender até Deus. O dogma da Assunção de Maria
ao céu de corpo e alma é um mistério que nos toca diretamente, porque
é Deus que vem alimentar nossa esperança nos chamando por Maria à
finalidade de nossa vida destinada a uma glória eterna. Se formos
fiéis a este Deus no fim de nossa trajetória terrena seremos em
plenitude tomados por Deus e em Deus. São Bernardo compara as virtudes
da virgindade e da humildade de Maria e sublinha: “A virgindade
merece recompensa, a humildade é uma exigência. Vos podeis ser salvos
sem a virgindade, mas não sem a humildade. A humildade foi a virtude
que abriu o céu a Maria, Ela é Mãe da obediência da fé e da docilidade
ao Divino Espírito Santo. Nesta solenidade da Assunção rendendo graças
a Deus pela glorificação desta Virgem bendita saibamos imitar todas as
suas exímias virtudes. É deste modo que cada um estará preparando o
instante de sua partida desta terra repousando na esperança da glória
eterna. Podemos, de fato, repetir com Santa Isabel o louvor que ela
dirigiu a Maria: “Feliz aquela que acreditou no cumprimento das
palavras que lhe foram ditas da parte do Senhor”. Em Maria todos os
mistérios de Deus se realizaram. A realização das promessas divinas
foi a resposta à fé de Maria, atitude que a guiou durante todos os
dias de sua vida. Ela sempre acreditou e se tornou um modelo acabado
de fé. Suportou as mais duras provações sobretudo durante a Paixão de
seu divino Filho que veio a morrer no alto de uma cruz tendo-a
corajosamente de pé junto a si, jamais duvidando do mistério salvífico
de Jesus. Também ela foi a primeira a acolher a Ressurreição de seu
divino Filho reconhecendo a fidelidade de Deus, pois ela nunca duvidou
das promessas divinas. A exemplo de Jesus ela um dia morreria, mas sua
morte foi qual suave sono do qual logo despertou para entrar na glória
celeste como hoje estamos festejando. Ela não conheceu a corrupção do
túmulo, pois seu Filho logo a tomou para sua glória e sua assunção foi
um fruto da ressurreição de Jesus. O povo cristão sempre acreditou que
ela não conheceu a degradação do sepulcro mas que seu Filho a tomou
logo em sua glória. Imitemos suas virtudes e um dia estaremos com ela
lá no céu.
Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.