Morte e ressurreição é o tema do Evangelho do 32o domingo do tempo comum (Lc 20,27-38). Vindo a este mundo Jesus, que é a Ressurreição e a Vida, ao responder as questões dos Saduceus, firmou sua doutrina sobre a ressurreição dos mortos. A vida depois da morte está além de todas as imagens e de todas as barreiras que possamos conceber. Não será uma nova vida, mas será a mesma vida, porém liberta de todos os limites da existência presente, igual a dos anjos.
Ressuscitaremos para uma felicidade eterna. O certo é que a vida humana não acaba na hora da morte, mas é transformada para um estado melhor e por toda a eternidade. Os saduceus não acreditavam na ressurreição e por isto propuseram a Jesus uma questão para ridicularizá-la. Eles imaginavam a ressureição com categorias meramente terrestres. Jesus pacientemente lhes mostra que a ressurreição não será como na nossa realidade humana, não uma espécie de vida recomeçada, uma mera reanimação dos cadáveres. Trata-se antes de reviver para sempre uma relação pessoal com Deus que é o Deus dos vivos e não dos mortos, “porque para Ele todos vivem”. Crer na ressurreição é ter certeza absoluta da vitória sobre a morte. O Deus dos vivos garante aos mortais a vida eterna. No cerne da fé cristã há a esperança da ressurreição.
Jesus que morreu, ressuscitou ao terceiro dia imortal e impassível, Ele é a fonte de toda a vida. Os seres humanos estão destinados a morrer, não, porém, a desaparecer no nada, mas têm a promessa de seu Redentor que pôde afirmar: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá. (João 11,25-26). A ressurreição de Jesus é o fundamento da esperança cristã diante da realidade universal da morte. Esta realidade do fim da vida terrestre de todos os homens e mulheres; os fluxos do tempo têm sido o ponto de partida de numerosas reflexões filosóficas e religiosas.
Dependendo da resposta que se dá ao sentido da morte é que se determinará o sentido da vida. Para o cristão, “um por todos, Cristo aceitou morrer na cruz para nos livrar a todos da morte”. Entregou de boa vontade a vida, para que pudéssemos viver eternamente”, como está no segundo Prefácio dos mortos. Eis porque o seu seguidor habita a casa da esperança e vive em função desta realidade sublime. A teologia da morte é um dos capítulos mais belos do credo cristão. É que nascemos para morrer, mas morremos um dia para viver eternamente junto de Deus. A resposta que Jesus deu aos saduceus sublinha a estreiteza de vista de seus interlocutores que imaginavam após a morte uma vida à semelhança da existência neste mundo, a vida além-túmulo como um simples prolongamento da vida terrestre.
Tal interpretação significa desconhecer as Escrituras e o poder de Deus. Jesus cita, com efeito, a célebre passagem da sarça ardente do livro do Êxodo: “Deus não o Deus dos mortos, mas dos vivos” o que implica que o Senhor “não pode abandonar seu amigo à morte, nem deixá-lo ver a corrupção” como proclama o salmo 16. A lição de Jesus deve levar o cristão a se interrogar sobre a maneira pela qual a interpreta. Com efeito, muitos se colocam num horizonte de concepções humanas da vida e da morte e não se deixam guiar pela verdade total à luz do Espírito Santo. A fé na participação do batizado na ressurreição de Cristo se funda sobre sua Palavra, confirmada pelo Pai e atestada pelo Espírito Santo. O objeto da certeza da ressurreição pessoal de cada um está neste Deus Todo-poderoso como escreveu São Paulo aos Coríntios (1 Cor 2,9).
O problema levantado pelos saduceus não tinha razão de ser, porque o estado da humanidade glorificada não necessitará mais da procriação no sentido no qual se viveu na condição terrena. Homem e mulher se amarão em Deus que lhes dará parte no Espírito Santo na fecundidade de seu amor divino infinito. Por isto São Paulo aconselhava aos Colossenses a tenderem “para as realidades do alto e não para as da terra” (Col 3,1-40). Crer na ressurreição não é somente falar de algo após a morte, mas também dar um sentido à vida neste mundo. Esta é o caminho para a eternidade onde se terá a plenitude do amor perene de um Deus que é amor. Os atos nesta terra devem ser uma preparação contínua para receber este amor eterno, tudo culminando na ressurreição por ocasião do Juízo Final.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.