No que tange ao matrimônio o projeto de Deus é indiscutivelmente possível e Jesus foi taxativo ao dizer: “O que o Deus uniu o homem não separe” (Mc 10,2-16) As primeiras páginas da Bíblia apresentam a narrativa da criação na qual aparece claro o plano divino. Esse funda tudo no amor da união do homem e da mulher, chamados a se dar um ao outro na mais perfeita igualdade. Adão maravilhado ao olhar pela primeira vez Eva exclamou: “Eis o osso de meus ossos e a carne da minha carne” (Gên 2,13). A Sagrada Escritura prossegue concluindo: “O homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá a sua mulher e os dois formam uma só carne” (Gên 2,24).
O matrimônio, portanto, é de sua natureza mesma indissolúvel. Cristo vindo a este mundo confirmou esta verdade. Explicou a razão pela qual Moisés havia permitido escrever o ato de divórcio e repudiar, estabelecendo esta norma não contestando o projeto de Deus, mas por causa da dureza do coração humano. Cristo viera restabelecer o projeto de Deus e confirmou: “Todo o que repudiar sua mulher e casar com outra, comete adultério contra ela; e se uma mulher repudia o seu marido e casa com outro, comete adultério” (Mc 10,11-13). Deus não pode se enganar e nem nos enganar. Donde ser indispensável a sua presença no lar onde homem e mulher se unem pelo sagrado vínculo de um sacramento.
No laço matrimonial há três vontades que devem se interagir: o homem, a mulher e Deus. É esta presença do Criador no seio da família que prende, definitivamente, dois corações. Ele deve estar sempre no centro do projeto conjugal. Na visão divina o laço do amor que une o homem e a mulher ultrapassa o plano afetivo, sensível, emocional. Ele quer que os esposos estejam unidos por um amor Ágape, que é baseado na vontade de amar, de se dar para o bem um do outro, superando todas as dificuldades que tendam a fragilizar essa dileção.
Esse amor, fundamentado no dom de si mesmo, é um amor que vem de Deus o qual é Ele mesmo sua única fonte. São João na sua primeira carta dirá: ”Deus é amor” (1 Jo 4,16-21). Quando Jesus empregou a expressão “o que Deus uniu o homem não separe”, Ele mostrou que só um amor vindo do coração divino pode unir duravelmente um homem e uma mulher. Eis porque o casal humano através da prece haure na fonte divina a água viva que fará crescer dia a dia sua unidade. Graças a serem obtidas também através da Sagrada Família, Jesus, Maria e José, que iluminam os cônjuges na visão clarividente do plano de um amor que Deus quer prevaleça por toda a eternidade.
São José e Maria se tornaram mestres da humildade e da paciência para que jamais seja maculado o verdadeiro sentido da dileção conjugal, sobretudo no contexto atual no qual tanto se fala de amor e este é tantas vezes renegado. Pela influência maléfica dos meios de comunicação social abrem-se feridas e dores que martirizam pai, mãe e filhos, envolvendo-os em horripilos problemas matrimoniais, afetando a exigência evangélica da unidade e da fidelidade.
Cumpre sempre uma preparação cuidadosa para aqueles que vão convolar núpcias, afim de que estejam plenamente cônscios de suas responsabilidades como marido e esposa. Àqueles que estão casados é preciso todo amparo e orientação para que jamais um lar seja destruído pelas invectivas do inimigo. É preciso que o casal viva continuamente a dimensão espiritual de seu matrimônio. Homem e mulher são na sua casa imagem viva do Deus Uno que os uniu e os quer unidos para sempre. Para Deus nada é impossível e, por isso mesmo, são milhares de cônjuges que vivem sua união, não obstante todos os percalços, que os levam por vezes às raias do heroísmo. O Espírito Santo presente no lar pode transformar continuamente um amor humano que é limitado no amor imenso, ilimitado de Deus.
Isso se manifesta em inúmeras circunstâncias, sobretudo quando um sabe imediatamente perdoar o outro, tendo consciência de que somente Deus é perfeito. Jesus, que restabeleceu a grandeza do vínculo matrimonial ensina a dialogar, a desculpar, a ultrapassar as barreiras das fraquezas humanas. A família cristã patenteia então valores fundamentais para que haja uma sociedade justa e durável que é a base da grandeza de um povo.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.