A missão Universal do Redentor

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A reação dos ouvintes de Jesus na Sinagoga de Nazaré passou de uma admiração profunda a um furor virulento, como bem registrou São Lucas (4,21-30). Inicialmente “todos o elogiavam e admiravam-se das palavras cheia de graça que saíam de sua boca”. Depois, “se encheram de ira” e Ele foi expulso de sua cidade. Nenhuma das duas posturas afetou o Mestre divino que sempre dizia a verdade, apesar de tentarem precipitá-lo monte abaixo, pois “Jesus passou pelo meio deles, seguia o seu caminho”. Ele ensinaria a seus discípulos: “Seja o vosso falar: Sim, sim; não, não, porque tudo o que passa disto procede do maligno”, ou seja, é sugestão diabólica. (Mt 5,37).


Apesar então do fascínio com que seus conterrâneos O escutavam, apreciando a beleza de suas palavras, Jesus não deixou de recriminar a incredulidade que pairava no íntimo de seus corações que duvidavam da sua missão messiânica a qual deveria se estender a todos que verdadeiramente O aceitariam como o salvador prometido. Os nazarenos simbolizavam os demais judeus que O perseguiriam e O levariam também para fora da cidade de Jerusalém e O crucificariam numa lamentável recusa de sua tarefa redentora. Através dos tempos idênticas são a reações humanas perante o mistério de Jesus. Isto tantas vezes numa visão estreita, diminuindo a universalidade de sua obra salvífica que deve se estender a todos e por toda parte. Ele se manifestou não como o “o filho de José, mas como o “Filho de Deus”, mas muitos até os que nele creriam colocariam sobre Ele etiquetas ao serviço de seus interesses pessoais e daí de um lado um rigorismo condenável e de outro uma laxismo diabólico, distorcendo tantas vezes sua doutrina ou não acatando as determinações das autoridades de sua Igreja. Surgiriam os rigoristas que não admitem as reformas necessárias nos diversos contextos e os falsos progressistas que não se submetem às orientações do papa, dos bispos, dos Párocos.


Em pleno século XXI, por exemplo, há até aqueles que querem de novo a Missa em latim com o celebrante de costas para os fiéis e não acatam as rubricas do Missal atualizado. O apelo profético de Jesus seria sempre colocado em questão. Seus verdadeiros discípulos fariam, eles sim, de seu Evangelho um programa de ação, uma palavra divina que mobiliza, deixando de lado questiúnculas mesquinhas. Disto é que resultaria a não aceitação de tudo que o magistério de sua Igreja apresenta como o autêntico caminho da salvação. Através dos tempos, como aconteceu em Nazaré, Jesus vai seguindo o seu caminho e é uma grande multidão que passa a viver a realidade de tudo que Ele ensinou. Ele, como aconteceu em Nazaré seria perseguido e, em Jerusalém, seria condenado a morrer crucificado, mas, ressuscitando dos mortos provaria sua divindade, podendo oferecer aos seus seguidores a vida eterna. Aqueles que se fecham em si mesmos e querem impor seu próprio modo de ver criticam a Igreja, o Papa, os Bispos, os Padres e desejam uma religião adaptada a seus moldes mentais. Faltar tantas vezes a compreensão de Jesus e de seus legítimos representantes. A oposição aos mesmos coloca muitos na contramão do caminho da salvação. Acontece então a perda da identidade do autêntico fiel submisso em tudo ao Redentor, distorcendo a verdade doutrinária ou o ritual do culto litúrgico devido a Deus.


Felizmente, porém, a maioria dos cristãos ostenta a capacidade de se conformar com as. normas de uma religiosidade iluminada pelas orientações eclesiásticas sem retrocesso ou avanços condenáveis. Toda tensão, porém, pode e deve ser contornada e afastada para que se evite sempre cindir a legítima postura de quem quer, de fato, seguir a Jesus, obediente a seus representantes. A Igreja sempre remobiliza a história, faz as reformas necessárias e em tudo procura unicamente a glória de Deus e o bem das almas, porque Jesus passa sereno pelos séculos e aqueles que fielmente O seguem têm a luz da vida (Jo 8,12). Estes serão salvos. 


Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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