A porta das ovelhas

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Jesus se designa “a porta das ovelhas” (Jo 10, 1-10) Esta definição de si mesmo é uma síntese de sua missão de salvador da humanidade, é sua identidade. Ele quer que seus discípulos nele vejam o genuíno Bom Pastor. Declara-se então como o único medianeiro entre Deus e os homens, porque somente por meio dele pode-se entrar no redil que garante a caminhada segura rumo ao Pai.

Aliás, ele dirá que ninguém vai ao Pai senão por Ele (Jo 14,6). Quando Ele se identifica como a porta do seu redil está mostrando que no seu rebanho reina a liberdade e que suas ovelhas não temem nenhum perigo.

Elas escutam sua voz. Podem ir e vir, pois Ele as chama cada uma pelo seu nome e oferece segurança e a vida em abundância. Ele se diz uma porta, mas porta aberta de entrada e de saída. Esta saída deverá ser sempre para irradiar seu amor e atrair novas ovelhas para seu rebanho.

Expressiva, portanto, a imagem da porta, pois salienta um aspecto essencial do ministério redentor do Filho de Deus. No Antigo Testamento a figura da porta foi utilizada para simbolizar a presença de Deus. Assim o profeta Isaias fala do dia da paz universal e descreve um tempo no qual “as portas serão sempre abertas, nem de dia, nem de noite elas serão fechadas” (Is 60,11). Davi assim se expressou: “Levantai, ó portas vossos frontões e aumentai em altura, antiquíssimas aberturas, pois deve ingressar o rei da glória” (Sl 24,7-10), Este rei da glória vem responder a todas as expectativas do Povo de Deus.

Agora é por Jesus que há o “acesso ao Pai” (Ef 2,18). Cumpre então aproximar-se dele “com intenção sincera, cheios de fé, com o coração purificado da má consciência e o corpo lavado com a água pura”, como se lê na Carta aos Hebreus (Hb 10, 22).

Jesus abre a porta da salvação que é oferecida gratuitamente a todos que se dispõem a segui-lo livremente e com muito amor e confiança. Ele oferece a verdadeira vida para que suas ovelhas a tenham em abundância. O Bom Pastor é o guarda atento e poderoso. Para suas ovelhas se abrem vários caminhos no sentido de oferecer a inúmeras outras a mesma felicidade de pertencer ao Bom Pastor. Paraísos ilusórios, artificiais, atraem e levam a abandonar a caminhada rumo à felicidade eterna sem passar por Jesus.

Esta tentação se torna ainda mais perigosa no contexto atual. Cria-se uma imagem distorcida do verdadeiro Pastor que se identificou também como o caminho, a verdade e a vida. Eis por que é preciso renuncia a tudo que leva a se afastar do Reino de Deus. É preciso passar sempre pela porta que é Cristo e se entregar a uma conversão contínua para ter acesso às realidades do mistério infinito deste Reino de Deus. Cada etapa da vida da ovelha de Cristo significa assim também uma luta contra as ideologias que lutam versus o Bom Pastor, mas que, mais hora menos horas, se mostram desumanas e destruidoras.

As grandes heresias dos primeiros séculos até as muitas seitas hodiernas, sem se esquecer de que as fatais filosofias errôneas tudo fizeram e fazem para impedir que se entre no verdadeiro redil pela porta que é Cristo. É necessário então não participar das infectas obras das trevas para poder se encontrar sempre aberta a porta do reino eterno, oferecido por nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo, o Bom Pastor. Nele é necessário confiar nesta grande e perigosa caminhada para a casa do Pai. É preciso então sinceramente visualizar sempre aqueles momentos nos quais Cristo não é a porta das decisões de cada um.

Muitas vezes o que predomina é o amor ao dinheiro, aos prazeres pecaminosos, ao apego às coisas materiais. Deste modo, a analogia da porta leva a uma revisão de vida, buscando a coerência em tudo. Apenas Jesus é a porta que abre o sentido das palavras da Bíblia retamente interpretadas com as quais Ele alimenta as ovelhas que lhe pertencem. Todo cuidado é pouco para não se deixar iludir pelos falsos profetas que enganam com suas artimanhas e falsas promessas.

Eis por que, além de alimentar suas ovelhas com a Palavra, Ele também pela Eucaristia quis se unir intimamente a cada uma delas. São Paulo viveu estas verdades tão intensamente que pôde afirmar: “Já não sou eu quem vive, é Cristo quem vive em mim” (Gal. 2,20).

O ideal é então que cada ovelha que entra pela porta, que é Jesus, se assemelhe a Ele não apenas para o júbilo deste Bom Pastor, como também pelo crescimento de seu rebanho iluminado pela sua Palavra e pela Eucaristia. Deste modo, um dia se dará o seu desejo de que haja um só rebanho e um só Pastor. 


Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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