Após o Natal celebramos no domingo subsequente em uma mesma solenidade
as três pessoas que formam a Sagrada Família de Jesus, Maria e José.
Nós os festejamos não cada um por eles mesmos, mas enquanto formam
esta entidade particular que é a família humana do Filho de Deus Um
trio glorioso e santo devido os prodígios da graça operados em cada um
de seus membros como pela missão a eles destinada pelos desígnios de
Deus. A Sagrada Família é um modelo para todas as famílias cristãs que
devem viver os valores da vida familiar. Note-se a disponibilidade em
acolher os planos divinos e sua atitude de serviço para realizar o que
lhes pedia a vontade do Ser Supremo. O anúncio feito a Maria e a São
José, o nascimento de Jesus e depois a fuga para o Egito e a vida
oculta em Nazaré, em todas estas etapas a Sagrada Família foi no mais
alto grau uma comunidade na qual resplandeceu uma fé admirável,
comunidade de oração contínua e na qual brilhou sempre o senso do
serviço dentro de casa ou na modesta carpintaria. Nela se contemplam,
de fato, as mais peregrinas virtudes, numa abertura ininterrupta à
presença e à obra de Deus em todos os momentos de sua existência.
Nossas famílias, na medida do possível, devem ser, como a família de
Nazaré, comunidades de fervor religioso numa atitude sempre serviçal.
A aceitação dos preceitos divinos e a obediência às inspirações do Ser
Supremo precisam fluir da experiência humana de um amor sinceramente
revivido que une pais e filhos. Eis aí o caminho no qual devem estar
engajadas as famílias cristãs, caminho no qual rebrilhem a graça
divina e o verdadeiro amor. O distintivo da família cristã é querer
descobrir e desenvolver o amor mesmo de Deus no seio da dileção humana
individual, conjugal e familiar. É no cotidiano de nossas vidas que a
graça divina se manifesta. Maria e José não procuraram nada de
extraordinário, mas estavam abertos à obra extraordinária do Ser
Suprem. Fizeram-se deste modo um exemplar magnífico. Mais que toda
outra realidade espiritual o sacramento do matrimônio, que fundamenta
a família cristã, é o modelo do humano aberto ao divino. Formando uma
comunidade de vida e de amor, a família cristã testemunha a aliança
fiel e fecunda que nosso Deus Trindade, Deus Uno e Trino, propõe aos
homens. Vivendo isto no cotidiano, no decurso de sua existência, a
família permite a seus membros realizar o verdadeiro amor que leva a
uma santidade profunda na vivência dos valores familiares. A Sagrada
Família de Nazaré recorda todas estas verdades e mostra como a família
deve ser um santuário do amor, da vida e da fé. O amor autêntico em
ato é o coração da vida e da vocação familiar. Em Nazaré Jesus aos 12
anos crescia em sabedoria e graça se preparando para aos 30 anos
começar sua vida pública. É no lar que se amadurecem aqueles
princípios básicos que rebrilharão na vida prática. É preciso
valorizar sempre o tempo de formação à luz das orientações do pai e da
mãe, sobretudo numa época na qual impera a aceleração da história,
muitos esquecidos que o tempo de Deus não é o tempo dos homens para um
amadurecimento dos princípios que devem orientar a conduta do cristão.
Notável a educação progressiva de Jesus ministrada por José e Maria.
Como diz o evangelista “Jesus progredia em sabedoria e graça diante de
Deus e diante dos homens” (Luc 2,52). O Livro do Eclesiástico lembra
que “o Senhor glorifica o pai nos seus filhos, fortifica o direito da
mãe sobre eles” (Ec 3,2). A sabedoria que Jesus recebia na casa de
Nazaré foi sem dúvida fruto também de uma profunda influência de
José e Maria com sua presença sábia e afetuosa. Hoje mais do que nunca
é preciso que a família assuma com energia a missão educadora que Deus
lhe confia. Educar é introduzir na realidade o sentido do dever e da
prática de todas as virtudes. Nunca se ressalta demais o valor dos
princípios recebidos em casa, mormente num mundo no qual s maiores
absurdos morais são difundidos pelos meios de comunicação social
Jesus, enquanto homem, vivia na casa de Nazaré aprendendo naturalmente
a ser virtuoso como eram constantemente José e Maria. Nada mais
valioso do que famílias santas, pois a família é o lugar da
aprendizagem do amor e do serviços, valores essenciais para que cada
ser humano possa na idade madura irradiar os princípios morais
deixados por Jesus. Nas palavras e nos silêncios de Maria e de José
que acompanhavam Jesus na sua vocação de salvador da humanidade, se
descobre a profundada de um amor que sabe estar presente numa educação
que leva à responsabilidade de um serviço dedicado ao próximo, dando
cada um o melhor de si mesmo, devido a um trabalho de conversão
contínua. A família se torna então verdadeiramente uma Igreja
doméstica resplandecendo à luz oferecida por Jesus, Maria e José.
Magníficas lições que fluem das considerações sobre a família de
Nazaré!
Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.