Jesus Ressuscitado, junto do lago de Tiberíades, pela terceira vez manifestou-se a seus discípulos. (Jo 21,1-14).
Pedro e seus companheiros trabalharam noite adentro e nada tinham pescado. Os apóstolos ainda estavam aturdidos com o que ocorrera com Jesus no Calvário e sua fé no Ressuscitado era ainda bem tímida. Jesus, que inicialmente não reconheceram, apresentou-se na margem e, para testá-los, lhes pede algo para comer e aqueles pescadores só tiveram uma resposta, dizendo que nada tinham a oferecer. Ali, porém, estava o Senhor poderoso que havia multiplicado os pães e peixes no deserto e já havia, antes, promovido uma pesca- milagrosa (Lc 5,4-11). Ele os instrui, pois, deviam, lançar a rede para o lado direito do barco.
Seguiram a instrução e a pesca foi surpreendente. Entre as lições que este acontecimento oferece é preciso inicialmente fixar que nas horas de incerteza, de dúvida na vida pessoal, familiar ou comunitária frequentemente é necessário prosseguir na rota simples do cotidiano. É necessário não esmorecer e continuar agindo. Isto a partir dos elementos habituais das atividades próprias de cada um. Pedro afiançara, alto e bom tom, que iria pescar e seus companheiros resolveram ir também. Houve então um trabalho de equipe e, mesmo que nada tivessem pescado, aquele esforço lhes fora psicologicamente benéfico, apesar da fracassada tentativa de apanhar peixes. Foi quando se deu a presença do Ressuscitado. Aí vem outra mensagem de grande valia espiritual, pois, João, o discípulo amado, alma pura e simples, reconheceu que era Jesus quem ali estava: “É o Senhor”. Admirável, em seguida, a atitude de Pedro que imediatamente se lançou às águas para logo estar com o Mestre divino, nadando para chegar depressa à margem.
Naquele momento Pedro já fazia um ato de fé no Senhor Ressuscitado e compreendeu que devia entrar no estilo de Jesus, sempre pronto a ajudar aqueles que nele creem. Os sinais do divino Redentor surgem nos acontecimentos da vida de cada um, no seu cotidiano e felizes os que captam suas mensagens sublimes percebendo o dinamismo de Jesus que visa sempre aprofundar a espiritualidade de seu discípulo. Naquele momento em que o próprio Cristo toma o pão e o peixe e os dá àqueles pescadores maravilhados com o que estava acontecendo eles entram numa atmosfera meditativa, silenciosa. Pedro inclusive estava então preparado para receber a chefia do rebanho de Cristo. Aqueles foram momentos de uma familiaridade comovente e de profunda proximidade do Mestre vencedor da morte. Este Senhor poderosos a convidá-los a comer com Ele era algo surpreendente.
Uma cena tocante, pois não se tratou de uma aparição cintilante de luz fazendo brilharem as vestes de Jesus. Tratava-se de gestos e de palavras da vida do dia a dia. O Ressuscitado se mostra aos discípulos e deles se aproxima como o fazia antes nos dias de sua trajetória terrena. Os liames com Ele não haviam desaparecidos, mas simplesmente transformados.
Como nas outras duas aparições anteriores Jesus se manifesta aos apóstolos com uma presença nova. Por isto os detalhes da narrativa de São João foram escritos para fazer compreender que esta presença de Jesus, após sua ressurreição era uma presença real, uma presença que ele queria fosse sentida na vida de todos os seus seguidores em todas as suas atividades cotidianas.
É preciso, de fato, perceber Jesus Ressuscitado nas ocupações habituais, no trabalho, nas conversas pessoais ou pelo telefone, ou pelo Twitter, ou pelo Facebook. Ver Jesus Ressuscitado nos amigos, nas crianças, nos jovens, nas pessoas idosas. Contemplar Jesus, sobretudo, em casa no convívio familiar. Com efeito, Ele continua a se manifestar no contexto histórico de cada um como o fez para os discípulos a beira do lago. Ele quer uma resposta de amor e de fé.
Com ternura Jesus disse à beira do lago aos apóstolos: “Vinde comer”. Presente na Eucaristia, no Pão e no Vinho consagrados, Ele alimenta em cada participante da Missa a fé na sua presença. A Igreja renova então a exclamação do Apóstolo João: “È o Senhor”! Eis “o Cordeiro Imolado, digno de receber poder e riqueza, sabedoria e força, honra, glória e benção” (Ap 5,12). Nele nós podemos confiar, pois está sempre ao lado dos que nele creem e O amam.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos