Em meio à agitação e à pressa da vida contemporânea, parece ser forçoso e retrógrado afirmar que o humano é um peregrino. Não há mais espaço para a sutileza e contemplação do caminhar. Viver significa estar a caminho, significa estar constantemente em construção, se transformando, descobrindo a si mesmo, os outros e a Deus.
Não é difícil depararmo-nos com pessoas paralisadas como a pedra de Drummond. Sem projetos a realizar, sem sonhos e perspectivas, preferem vagar como andarilhos, sem propósitos, sem finalidades. Por isso, tantas mentes impacientes, ansiosas e apressadas. Tão distantes daquilo que constitui a sua vida. Longes da sutileza e da ternura do contato que proporciona a vida caminhante. Quem não caminha abraça qualquer coisa e se perde em qualquer desejo, esquecendo-se que um dia teve sonhos, distanciando-se, dessa forma, do alicerce da partida.
A caminhada nos faz fecundos. Cada passo dado se torna uma melodia de silêncio e solidão, escuta e encontro, felicidade e integração. Reparem aqueles discípulos que por causa do medo retornavam apressadamente para Emaús. Não souberam se colocar no caminho do Senhor. A pressa, muitas vezes, nos faz cegar para as coisas essenciais, nos faz tristes, nos desespera, nos faz retornar para a vida velha e nos coloca em um caminho diferente daquele de Deus. No caminhar, é preciso escutar a Voz que fala ao nosso coração e o faz arder. É esta Voz que nos recolocará no caminho da vida, da alegria completa e da esperança. Foi assim com aqueles discípulos. Por isso, é preciso não deixar de caminhar e estar atento às sutilezas de Deus no percurso.
Se parecer difícil, creia! Ele se adianta e se coloca no caminho conosco, explica-nos as Escrituras e parte o Pão. A nós cabe deixar com que o Senhor se aproxime e caminhe conosco. É Ele a “luz para o meu caminho”. É Ele quem dá o sentido para cada passo que damos. Quando dividimos o peso da caminhada com o Senhor, sem a prepotência de autossuficiência, o objetivo do caminho se torna alcançável. Sem a Sua presença, sem a Sua graça não conseguimos caminhar. Ele “nos guarda por todos os caminhos por onde peregrinamos” (cf. Js 24,17).
Por isso, não deixe de caminhar! Não deixe de caminhar com o Senhor e para o Senhor. “Avante, se erras, levanta-te e segue em frente: este é o caminho. Aqueles que não caminham para não errar, cometem um erro mais grave” (Papa Francisco). Enquanto os amantes não redescobrirem o valor do caminho com o Amado, as juras de amor eterno não passarão de promessas líquidas, dispersas e vazias.
Róbson da Cunha Chagas
Seminarista da Arquidiocese de Mariana – 3º ano de Teologia
rbncunha@gmail.com