Peremptória a assertiva de Jesus: Aquele que crê possui a vida eterna”
(Jo 6,41-51) A fé exige, porém da inteligência posturas decisivas
como, por exemplo, admitir a existência de Deus, que falou aos homens;
e que Jesus de Nazaré é o divino Redentor, que veio salvar a
humanidade perdida pelo pecado. Além disto, entre outras verdades quem
crê deve proclamar que a Palavra de Cristo permanece na sua Igreja,
não obstante as misérias humanas, anunciando através dos séculos a
vitória do divino Crucificado. Entretanto para alimentar e sustentar
esta crença Jesus mostrou que Ele era o pão da vida, o pão vivo
descido céu e quem comesse deste pão viveria eternamente. Isto porque
não é fácil acreditar, depositando em Deus uma confiança total na vida
e na morte. Já o povo escolhido fizera a experiência por ocasião do
Êxodo. Os filhos de Israel tinham deixado o Egito na alegria da
libertação dos dominadores, mas como a caminhada no deserto não
terminava logo, eles começaram a achar insípido o maná de Deus e
contra Ele passaram a murmurar. Elias no deserto, também ele, cansado
da peregrinação e da hostilidade que sua missão estabelecia, reclamou
e expressou seu sentimento de que Deus estava exigindo demais. Esta
dificuldade em crer os contemporâneos de Jesus a experimentavam, não
obstante os milagres que Ele fazia. Eles O conheciam muito ou, pelo
menos, pensavam que O conheciam. Em Nazaré sabiam quem era sua mãe,
uma mulher simples, discreta, sempre alegre. Cria-se que sabiam também
quem era seu pai, porque todos tomavam Jesus como filho do carpinteiro
José. Como é então que alguém, tendo crescido numa família da terra,
podia pretender que descera do céu? Eis aí o primeiro murmúrio das
pessoas da Galileia. Um outro murmúrio foi registrado na parte
propriamente eucarística do discurso do Pão da Vida, quando esta
expressão é aplicada à carne de Jesus, oferecida pela vida do mundo.
Indagariam escandalizados: “Como pode este homem nos dar sua carne a
comer”? No que diz respeito ao primeiro murmúrio, que contestava sua
origem divina, Jesus se contentou a clamar: “Cessai de murmurar entre
vós” É que as discussões meramente humanas jamais conduzem à plenitude
da fé e somente quem crê é que possui a vida eterna. Esta fé em Deus e
em Cristo não é o resultado de longas e intermináveis elucubrações
intelectuais. Ela é um dom divino e Jesus é “o pão vivo que desceu do
céu; se alguém comer desse pão viverá eternamente e o pão que eu darei
é a minha carne pela vida do mundo” afirmou Jesus. É que esta fé
precisa deste alimento celeste para se robustecer e jamais se
extinguir. Todos os alimentos terrestre não são nada diante do
alimento da fé, que sustenta na crença das coisas de Deus. É certo
que temos que trabalhar para poder comprar o alimento que nos sustenta
a vida do corpo Trata-se de um alimento necessário e urgente e, no
entanto, Jesus chama a atenção de que se trata de um alimento que
perece. É preciso então desejar o pão da palavra divina, alimento da
fé que faz crescer em nós a vida da alma, alimento de uma crença firme
e inabalável. Jesus foi claro: “Na verdade vos digo que aquele que crê
tem a vida eterna”. Ele é o pão da vida, que desceu do céu e quem come
deste pão não morrerá jamais. A Eucaristia é, de fato, o pão que é a
carne de Cristo para se poder conseguir esta vida eterna. Nas Missas
passamos da liturgia da palavra para a liturgia eucarística e todos
são convidados a comer o pão da vida eterna que é o corpo de Cristo.
Jesus veio de Deus e nos revelou o amor do Pai. Ele era o Messias que
viera para salvar a humanidade e que poderia dar o seu próprio corpo
em alimento através do pão eucarístico. Daí a importância de se firmar
a origem divina de Cristo como fez São João no prólogo de seu
Evangelho: “No começo era o Verbo e o Verbo estava junto de Deus e o
Verbo era Deus”. A natureza, portanto, do Filho de Deus, seu ser, era
divino. O Verbo é o Filho que recebeu a vida do Pai e o Pai é Pai
porque ele dá a vida ao Filho. É esta relação que dá identidade ao
Filho e ao Pai e é esta mesma relação que lhe dá o existir desde toda
a eternidade. Pois, bem é esta extraordinária realidade que é vivida
por aquele que comunga recebendo então a plenitude da grandiosidade do
mistério trinitário e Jesus um dia disse a Filipe quem me vê, vê o Pai
(Jo 14,9-10). Aquele que se nutre do alimento eucarístico une-se
cada vez mais intimamente a Deus, recebendo, portanto, a vida eterna,
sempre mais abundante. Porque, assim como o Pai comunica a vida eterna
ao Filho unigênito divinizando-O, assim também o Filho comunica a vida
da graça a quem come a sua carne. Deste modo, pois a vinda no mundo do
Filho deve ser reconhecida como o dom do Pai, verdade que deve ser
vivida intensamente em cada comunhão Professor no Seminário de
Mariana durante 40 anos.