Ao aproximarmos do Natal, Deus nos leva ao deserto para aí escutar o
apelo do Precursor, um novo convite à conversão (Mt 3,1-12), Mateus
começa sua narrativa da vida pública de Jesus descrevendo o ministério
de João Batista: “Naqueles dias apareceu João Batista que proclama no
deserto da Judéia: “Convertei-vos que está próximo o reino dos
céus”. A insistência está colocada em sua mensagem e é em seguida
somente nos versículos 7 a 13 é que São Mateus falará de seu
batismo. Paradoxalmente, João escolheu para pregar no deserto junto de
colinas áridas batidas por um sol intenso, local que convidava à
solidão e ao recolhimento interior. Era situado a alguns quilômetros
de Jerusalém. João não se colocou nas praças das cidades ou nas
grandes encruzilhadas onde as pessoas são forçadas a passar. Ele
preferiu o deserto. Deste modo, todos aqueles que desejassem ouvi-lo
deveriam procurar um caminho e deixar de lado qualquer comodidade. É
que a linguagem de João é de austeridade e do esforço:
“Convertei-vos”. Proclama ele. Tratava-se de um programa de vida
espiritual. Isto porque a conversão não é somente uma mudança de
mentalidade, mas, sim, de toda uma caminhada para Deus. Imagina-se que
a conversão é um instante privilegiado numa existência, mas é, porém,
muito mais que isto. É toda uma vida que recomeça a partir de um
momento de reencontro. A conversão é um rumo a ser adotado. Um
retorno, certamente, mas sobretudo um retorno que deve durar a vida
toda. Não se trata de algo passageiro que conduz o ser humano a
refletir sobre si mesmo ou sobre suas faltas, mas uma peregrinação de
amor que leva o homem para Alguém, para aquele que chama para o Reino
de Deus, ou seja, para o Deus que oferece a paz e a alegria. Se há
conversão é porque “o Reino de Deus está próximo”. O Reino de Deus,
ou seja, o Reino dos céus, é o estabelecimento na terra da autoridade
soberana do Ser Supremo, a realização de seu plano de salvação. Este
Reino de Deus nos atrai, dirá Jesus (Mt 12,28), porque é lá que se
encontra o Messias, que se tornou próximo de nós para sempre. É o
encontro com o Enviado de Deus, pessoalmente, em casa, na
fraternidade, na comunidade, é a grande empreitada de uma vida, é o
momento que não se pode perder, é o caminho que não se deve abandonar.
Depois de haver resumido a mensagem do Batista, São Mateus para um
instante sobre sua personalidade fora de série e o seu papel na
história da salvação. O alimento de João Batista eram gafanhotos e mel
silvestre numa sobriedade admirável. Quanto a vestimenta era -uma
túnica de pelos de camelo e um cinto em volta dos rins, lembrando
Elias (Rãs 1,8) e sua simplicidade, por seu modo de vestir pois sua
intenção era colocar toda sua vida no rastro do grande profeta de
Javé. O Evangelista Mateus aliás inseriu explicitamente o Batista na
linha dos grandes profetas: “Este João é aquele do qual falou o
Profeta Isaias: “No deserto uma voz clama: preparai o caminho do
Senhor, endireitai suas veredas (Si 40,3) Como o Profeta que anuncia o
retorno dos deportados no século 6º. antes de Cristo, João
inaugurava os tempos novos. Deus por Jesus vai livrar seu povo de toda
escravidão. Depois São Mateus retorna à mensagem do Batista e,
especialmente, à sua severidade para com os Fariseus e os Saduceus:
“! Raça de víboras”, e de novo diz “Vós não produzis senão obras de
morte”. É certo que eles chegam em grande número, mas João não
desejava que recebessem o batismo por esnobismo. Ele era claro:”
Produzi um fruto que exprime vossa conversão”. Deus, com efeito não se
contentará com simples sentimentos nem com práticas puramente
exteriores: Ele quer atos concretos, que envolvam o homem todo
inteiro. A fé mesma deve se purificar de toda a procura de comodidade.
“Não digais a vós mesmos: Temos Abraão por pai!”. Segundo a doutrina
judia corrente, Israel usufruía os méritos de Abraão, mas, para o
Batista, contar sobre estes méritos seria simplesmente ainda se apoiar
sobre um privilégio religioso, A conversão seria incompleta. Os
verdadeiro filhos de Abraão são todos aqueles, Israelitas ou não, que
imitam sua fé e seu engajamento total no projeto de Deus. Através dos
Fariseus e dos Saduceus, é nós que somos tomados a parte pelo
Precursor. Porque nós também somos ameaçados pela rotina e nossos
retornos ao Senhor ficam frequentemente algo passageiro. Professor
no Seminário de Mariana durante 40 anos.