No Evangelho de hoje temos o testemunho de João Batista referente
diretamente a Jesus (Jo 1,29-34). Toda uma visão de fé quanto à pessoa
de Cristo e de sua obra colocada em alguns versículos nos lábios do
Precursor. Com efeito, o Evangelista apresenta Jesus sucessivamente
como o Cordeiro de Deus, um personagem existindo depois de tempos
imemoriais, o portador do Espírito Santo, o Eleito e o Filho de Deus.
A figura do Cordeiro de Deus é ela só um resumo da história da
Aliança, dado que ela evoca de uma só vez o cordeiro pascal do Êxodo,
cujo sangue, projetado sobre as colunas da porta de cada casa dos
hebreus, indicava a noite de sua libertação, o Servidor sofredor que
descreve o profeta Isaias, conduzido ao matadouro como o cordeiro e
isto por causa dos pecados de seu povo, o cordeiro vencedor que,
segundo os apocalipses judeus, devia destruir o mal no mundo. Quanto a
preexistência de Jesus, o Enviado de Deus, é um tema bem joanino.
Jesus dirá um dia aos fariseus: “Antes que Abraão existisse, eu sou
“(Jo 8,58); e na sua oração da última tarde ao Pai, ele rezará
dizendo: “Pai glorifica-me junto de ti com aquela glória que eu tinha
junto de tí antes que o mundo existisse” (17,5). O que lembra a
afirmação do Prólogo: “no começo era o Verbo”; desde sempre era. O
Filho de Deus. Enfim, o Evangelista acentua que o Espírito desceu
sobre Jesus no batismo e permaneceu sobre Ele. Jesus, por conseguinte,
possuía permanentemente o Espírito Santo durante sua vida terrestre,
mesmo que Ele tenha esperado sua hora, a hora de sua paixão e de sua
glorificação para transmitir o Espirito aos homens vindos até Ele pela
fé. O livro de Isaias anunciava já que o Espírito do Senhor repousaria
sobre o Messias, saído do trono de Jessé e que Deus colocaria seu
Espírito sobre seu servidor, o Eleito que teria toda sua complacência.
Deste modo, desde o início do Evangelho, o Precursor com insistência
volta nosso olhar para Jesus, o Enviado, o Filho de Deus, e nos rediz
simplesmente : ” Ele, somente Ele , é Ele que o Pai santificou e
enviou ao mundo (10,365), é a Ele que é preciso servir, se queremos
construir a paz, é Ele que é preciso amar com todas as nossas forças,
com todo nosso espírito, com todo o nosso coração (Dt 6,5), é Ele que
Deus nos dá com o salvador, como irmão, como companheiro de caminhada,
é Ele que que tudo toma sem nada reclamar”. Estes testemunho do
Batista marcou o ponto de partida da fé em Jesus, Messias, Filho de
Deus. Os cristãos sempre guardaram esta lembrança e eis porque tantos
pintores, tantos artistas representaram João Batista com o dedo
apontando para Jesus, como que para repetir a cada geração dos que
creem o que ele dizia a seus contemporâneos: “Há entre vós alguém que
não conheceis: É Ele o Cordeiro de Deus. Eis porque também nas Missas
o sacerdote mostrando o Corpo de Cristo, retoma as mesmas palavras do
Percursor: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo!”. E
todos juntos, antes de comungar dizem duas vezes a uma só voz:
“Cordeiro de Deus, tem piedade de nós!”. Piedade de nós, “pobres
pecadores”, se mostram a uma só voz doce e muito forte. Doce porque o
Filho de Deus é capaz de júbilo com seu perdão, não obstante nossa
miséria, ainda que tenhamos caído fundo no pecado, na miséria, no
desespero. Muito forte, porque esta piedade de Jesus tira o peado do
mundo que está dentro do coração. Ele é vitória sobre o mal e não nos
deixa estancar na recusa do bem próximo dela: ela nos coloca de pé,
nos põe em caminho. Jesus meigo nos diz: “Vem para o Pai!” Cordeiro
de Deus” tem piedade de nós” é nossa prece de cristãos de qualquer
idade. É a prece dos jovens: “Tu que salvas todos os homens, faze de
mim um irmão universal”. É a prece dos esposos cristãos: “Tu que te
imolaste até à morte, tu que morreste por nós dois, tomai-nos, em tua
piedade, tomai nosso amor no teu amor, coloca teu amor no coração do
nosso amor. É a prece confiante dos idosos: “Cordeiro de Deus, tu que
tão frequentemente pendoaste minhas misérias e minhas lentidões, dá-me
o tempo de me imergir de minha parte na tua misericórdia. É a prece de
toda a comunidade no momento em que Cristo vem se unir a todos os
irmãos, em seu único Corpo: “Cordeiro de Deus, vencedor do mal, vem
habitar nossas diferenças, vem triunfar de nossas indiferenças. Tu que
te entregas por nós, coloca em nós a sede da unidade”. Trata-se de uma
prece universal e de todos aqueles que nela se contemplam amargurados
porque testemunham o Evangelho: “Jesus, de todos os povos e de todos
os homens de boa vontade, dá-nos a paz. Professor no Seminário de
Mariana durante 40 anos.