Na comemoração de todos os santos recordamos as oito bem-aventuranças que mostram como os seguidores de Cristo devem pautar a sua vida (Mt 5,1-12). Elas constituem o código da verdadeira felicidade. È um caminho a ser trilhado em contraste com o espírito e a maneira de viver do mundo com suas falsas ilusões É preciso apreciá-las sob as luzes divinas e, sobretudo, praticá-las.
Na festa de todos os santos não se trata apenas de venerar aqueles que nos deixaram e fizeram o bem aqui na terra. Entre eles inúmeros foram e serão canonizados e cujos exemplos magníficos os fiéis procuram imitar. Há, porém, milhares de outros desconhecidos que encarnaram na sua existência virtudes extraordinárias. Além disto, existe nesta terra um sem número de batizados nos quais resplandece uma santidade eminente. São aqueles que, imersos na espiritualidade do Deus três vezes santo lutam tenazmente contra o pecado, vivendo intensamente a graça santificante.
É uma solenidade que lembra a comunhão maravilhosa dos santos, homens, mulheres e crianças de todas as línguas, história e cultura, os quais cultivam o despego das coisas materiais, são mansos e humildes de coração, têm fome e sede de justiça, são misericordiosos, puros de coração, irradiam a paz, muitas vezes são perseguidos pelos maus e injustos, mas têm os olhos voltados para o céu, a cidade eterna dos bem-aventurados. Assim os que já lá se acham e aqueles que ainda estão nesta terra são um convite a viver e a crescer na perfeição todos os dias pela paciência, simplicidade, compaixão, perseverança na luta constante contra as insídias diabólicas e as insinuações perversas dos meios de comunicação social. Estes oferecem, as mais das vezes, uma felicidade artificial e armam ciladas aos incautos. Através das bem-aventuranças Jesus convida a todos para entrarem no mistério da verdadeira alegria, da autêntica ventura.
Entretanto, não é fácil percorrer as sendas desta riqueza espiritual, crescendo sempre na culminância existencial como os que já chegaram à Casa do Pai, os quais cultivaram as bem-aventuranças em todas as suas dimensões. Contudo no atual contexto erotizado é necessário mentalizar, sobretudo, esta bem-aventurança: “Bem-aventurados os puros, porque eles verão a Deus”, conscientizando-se da necessidade de não se deixar persuadir pelas mensagens deletérias que chegam a cada um, vindas da falta de modéstia, das aberrações sexuais transmitidas pela televisão e pela imprensa em geral. Àquele que repele os absurdos que vão frontalmente contra o sexto e o nono mandamentos é que foi prometida a visão beatífica de Deus. É necessário nunca se esquecer de que os olhos são as lâmpadas do corpo e que os olhares puros tornam o cristão luminoso, imune da perversidade do pecado. Está claro no salmo 36 que é pela luz que nós vemos a luz (Sl 36,9).
O contrário também é verídico, ou seja, é pelos olhos que o batizado se deixa tantas vezes se manchar. Trata-se, portanto, de permitir que entre em si a luz da fé que eleva o fiel àquele nível que o torna capaz de já usufruir da união com Deus neste mundo e, depois, digno de contemplá-lo face a face na eternidade. Para os santos crer significa ver já neste mundo as realidades sobrenaturais nas quais encontra a verdadeira bem-aventurança. O olhar do batizado se purifica na medida em que ele se deixa impregnar da esperança. Então ele vive intensamente a expectativa da vida eterna e tem o seu coração limpo, afastando corajosamente tudo que denigra sua alma, através das paixões deletérias. Os santos que chegaram à visão beatífica tiveram sempre um olhar repleto de fé, esperança e amor a Deus e ao próximo, um olhar verdadeiramente teologal.
Trata-se de um processo contínuo de transformação na luta perseverante contra o mal. Para isto é preciso que a santidade de Deus penetre no mais profundo do ser humano. Como diz o salmista é aquele que tem o coração puro e mãos inocentes é quem subirá à montanha do Senhor, procurando continuamente a face de Deus. Ninguém pode ser santo se não deixar Cristo reinar nele. Do mesmo modo que a multidão dos santos lavaram suas vestimentas no sangue do Cordeiro, participando de suas provações, é que se pode aspirar a uma santidade que leva à vivência das bem-bem-aventuranças, procurando cada um se purificar e santificar pelo olhar puro em todas as circunstâncias. Então quando o Filho de Deus aparecer, seremos semelhantes a Ele, porque nós O veremos tal como Ele é (1 Jo 3,2).
Quem cultiva as bem-aventuranças pode repetir com São Paulo: ”Já não sou eu quem vive é Cristo quem vive em mim’ (Gl 2,20). O cristão valoriza o seu batismo, cada vez que renuncia ao mal, pois, de fato, quem adere ao pecado expulsa a Deus de seu coração. Quem vive as bem-aventuranças, tendo sempre um olhar puro por entre as mazelas deste mundo, possui a garantia de que, um
Dia contemplará a Deus face a face.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.