Neste domingo, penúltimo do Ano Litúrgico, o Evangelho de São
Marcos, nos leva a meditar sobre o fim do mundo e a nova vinda de
Cristo (Mar 13,24-32). Em todo capítulo 13 os discípulos são
admoestados sobre o que infalivelmente acontecerá no fim dos tempos,
não são somente as inevitáveis catástrofes que atingirão todo o mundo,
mas, sobretudo, as perseguições que não deixarão de atingir os
discípulos de Jesus, que terão que sofrer por causa de seu nome. No
texto de hoje Jesus emprega uma linguagem especial, até mesmo
estranha, para anunciar sua nova vinda. Esta linguagem já era
empregada no Antigo Testamento, inclusive pelos profetas. Os doía
primeiros versículos remetem ao que o Criador fez no quarto dia da
criação (Gn 1,14-19), sol, lua e estrelas servindo para marcar os dias
e os anos, e sua descrição indica o fim dos tempos, o termo da
criação. Tais são os sinais da vinda do “Dia do Senhor”, isto é, do
Grande dia de Deus como haviam anunciado os profetas (Is 13,10:
Jer.10-11), A vinda do Filho do homem é predita no Antigo Testamento
pelo profeta Daniel (Dn 7,113-14). O poder e a glória do Filho do
homem, quando Ele virá sobre as nuvens do céu, Ele a luz
verdadeira, único luz definitiva. Os discípulos se alegrarão, os
primeiros entre os eleitos de Deus a serem reunidos pelo Redentor, seu
Senhor, vindo com grande poder e glória, mas antes deverão sofrer a
perseguição por causa do nome de Jesus Os anjos serão os servidores do
Filho do homem pela sua semelhança maior com os eleitos. A expressão
“da extremidade da terra até à extremidade do céu” (v l3,27), mostra
bem que a glória com a qual o Filho do homem será revestido, o poder
que Ele exercerá se estenderá sobre a terra como também, no céu no
conjunto da criação. Quando isto vai acontecer, chegará tanto para os
ouvintes de Jesus, seus discípulos, e também para os ouvintes de hoje,
ou seja, para os que estiverem vivos. Ninguém sabe nem o dia nem a
hora, só Deus o sabe. O certo é que todos morreremos, mas ninguém pode
prever quando isto se dará. Portanto, é preciso velar para estarmos
preparados, quando Deus assim o determinar, ou seja, estar dispostos
para lhe abrir a entrada, assim que Ele bater à porta. Cumpre então
viver na condição de quem está atento, numa postura de quem se acha à
espera de seu Senhor na mais viva esperança. Não se deve entregar a
uma vã inquietude, mas, isto sim, se abandonar nas mãos do Pai no que
concerne o dia e a hora da vinda do Filho do homem (v. 23,13,32). O
abandono ao Pai é o outro nome da fé. O Pai, o Filho e o Espirito
Santo estão presentes e agindo no mundo e na história. Jesus inaugura
o tempo de seus seguidores, de todos os seus discípulos. A eles Ele
pede bem considerar a existência própria. O que dá sentido para quem
se diz cristão é a relação profunda com o divino Redentor e não a sua
situação no mundo que se torna algo exterior. Nisto consiste a
conversão, ou seja, viver em função de Jesus e não de acordo com as
injunções exteriores. Em todos os tempos o que deveria prevalecer é a
Palavra de Jesus sobre o mundo algo externo no qual se vive a
expectativa das promessas do Filho do homem e em virtude desta
perspectiva tudo mais se torna então secundário. Jesus morreria na
cruz e ressuscitaria, iria para junto do Pai, mas voltaria oferecendo
a salvação a todos que vivessem a sua Palavra e isto se torna um
grande presente de Deus que é preciso receber com amor. Donde ser
necessário estar de fato atentos porque não se sabe nem o dia nem a
hora da vinda de Jesus. Portanto, Jesus nos interpela sobre a
realidade de nossa fé, de nossa união com Ele, e nos convida, desde
agora, a nos preparar para o reencontro com Ele depois de deixarmos
este mundo. Por isto se deve viver cada dia como se fora o último Isto
significa que o cristão deve estar sempre preparado para em qualquer
momento em que o Pai o chamar ele esteja em situação de comparecer
ante o tribunal divino. Trata-se do estado de alerta no qual deve
viver o autêntico discípulo de Cristo. É certo que nossa visão com
relação à vinda definitiva do Filho do homem é feita muitas vezes de
um certo temor, pois nem sempre pensamos nestas realidades.
Professor
no Seminário de Mariana durante 40 anos.