A Ascensão de Jesus ao céu foi um instante marcante, chave, no
relacionamento entre o Mestre divino e seus discípulos. Momento único
entre Jesus e os apóstolos. Por certo pairava no coração daqueles que
muito amavam a Cristo a amargura, pois ocorreria uma separação, mas
também fulgia uma fagueira expectativa, dado que este afastamento
significava que uma vida nova iria se dar, pois os discípulos, mais do
que nunca, deveriam ser testemunhas dos últimos acontecimentos
envolvendo o Filho de Deus nesta terra. Esta missão haveria de supor
então a vinda do Espírito Santo e os apóstolos deveriam estar
revestidos com a força do alto. Deste modo, o que Jesus planejara para
sua partida deste mundo teria seu objetivo colimado, obtendo
plenamente para seus discípulos uma visão universal para poderem levar
por toda parte a boa nova pregada por Ele e isto numa relação com o
mistério cristológico que deveria ser intensamente vivido. Deste
modo, a Ascensão foi uma ocasião não apenas para os apóstolos, mas
para todos os fiéis através dos tempos, um fato que seria fonte de
alegria. Isto porque Cristo, indo para junto Pai, lá do Alto, estaria
acompanhando sua Igreja e todos aqueles que lhe fossem sempre fiéis.
Ficava assim intensificada uma relação ainda mais espiritual entre Ele
e seus seguidores, os quais se sentiriam ainda mais intensamente
unidos ao seu Mestre e Guia, testemunhando-O profundamente. Envolve
então a solenidade da Ascensão a necessidade de uma total fidelidade a
tudo que Cristo pregou, a todo o conteúdo da Boa Nova trazida por Ele
do céu a esta terra. Isto implicando uma total disponibilidade a
tudo que se refere àquele que junto do Pai está à espera de seus
discípulos. No dia da Ascenção de Jesus se dá nossa vitória, porque
com Cristo temos um poderoso intercessor junto do Pai, sendo isto
fonte de graças para todos. Sua Ascensão foi a inauguração de nossa
salvação. Se na Anunciação, pela Encarnação do Verbo, a humanidade e
divindade se ligaram para sempre, pela Ascenção de Jesus um homem foi
acolhido no seio mesmo da Trindade. O movimento descendente do Senhor
para vir nos procurar não parou na realidade carnal, mas tomou o que
ferira no homem mais profundamente, ou seja, o pecado e a morte. Do
mesmo modo, o movimento ascendente de Cristo não se limitou à
ressurreição da carne, mas foi além até dando à nossa humanidade o
que lhe estava mais longe¸ isto é, a partilha da vida trinitária.
Veio de junto de Deus, nosso Pai, e voltou para Ele com nossa
humanidade, abrindo assim a porta a todos os que por Ele encontram a
comunhão com o Pai. Por sua encarnação, por sua vida nesta terra, sua
morte e descida à mansão dos mortos, Cristo Jesus tudo visitou e
entregou ao Pai que O acolheu em sua casa. Todos aqueles que receberam
a visita do Filho de Deus são chamados a reconhecer e testemunhar
aquele que se encarnou. Revelando-se a nós pela sua encarnação e
revelando nosso destino final, pela sua Ascenção Jesus nos convida a
proclamar que Ele é o Senhor. No céu, na terra e nos infernos toda
língua deve atestar a obra maravilhosa de Deus pelos homens e por toda
a criação. Eis porque, tendo-o adorado, os apóstolos voltaram para
Jerusalém cheios de alegria (Lc 24,53). É de se notar que na sua
ascensão Jesus passou corporalmente a uma outra dimensão da realidade
onde a morte e as degradações não têm mais poder e não adianta
perscrutar o mundo material para O encontrar. A presença atual de
Jesus é da ordem da fé. Eis porque somente o Espírito Santo que seria
enviado da parte do Pai poderia nos fazê-lo conhecer, conduzindo-nos à
verdade toda inteira. Compreende-se então que a Ascensão de Jesus não
foi uma partida, uma separação de seus seguidores, de sua Igreja. A
Ascensão realiza a salvação do homem através do acolhimento trinitário
e criou um espaço para a obra da fé no coração de cada um de seus
discípulos. Olhando então Jesus desaparecer a nossos olhos no dia da
Ascensão cumpre abrir nosso coração, nossa inteligência ao Espírito
Santo para acolher em plenitude este dom da fé, nós que renascemos da
água e do Espírito para a vida nova em Cristo. *Professor no Seminário
de Mariana durante 40 anos.