Jesus fez bem todas as coisas

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No Evangelho de hoje contemplamos diante de Jesus um surdo mudo. O
divino Taumaturgo fazendo dois gestos terapêuticos e proferindo uma
ordem salvadora: “Abre-te”, operando então uma cura admirável. (Mc
7,31-38) Tratava-se de um homem que tinha dois órgãos de comunicação
fechados: a palavra e a audição. Era para sarar esses males que se
pedia a Jesus lhe impusesse as mãos, abrindo-lhe os ouvidos e lhe
desatando a prisão da língua. Então o surdo mudo passou a falar
expeditamente, corretamente, com justeza.. Vivamente admirados os que
presenciaram este notável acontecimento proclamavam: “Ele tem feito
bem todas as coisas. Faz os surdos ouvir e falar os mudos.” É de se
notar o fato de que pessoas caridosas haviam conduzido o doente até
àquele médico divino. Eles não podiam nada fazer por si mesmos, mas
sabiam do poder extraordinário que Cristo possuía, a total
capacidade de o curar e libertar das doenças todos os que delas
padeciam. Notável a atitude tomada por Cristo que recebe com ternura o
surdo mudo, levando-o à parte, mostrando que patrocinava um encontro
privado, por assim dizer, coração a coração, operando o extraordinário
milagre de sua cura. Do grande tesouro do amor de Deus participaram os
circunstantes ao presenciar fato tão admirável. Num contexto, como o
atual, no qual se multiplicam os incrédulos, tendo muitos perdido a
fé, é bem que se lembre que a evangelização não consiste tanto em
procurar novos métodos para difundir a doutrina pregada pelo Filho de
Deus, mas em oferecer um encontro com Deus, falando aos corações
descrentes, para que ouvidos se abram, línguas de desatem. Cumpre,
porém, se lembre sempre que Jesus é o único Senhor e Salvador. Jesus
é aquele que fez bem, admiravelmente, todas as coisas como o atestaram
seus contemporâneos. Não fez nada pela metade e não deixou coisa
alguma de lado para completar depois. Seu seguidor deve tudo fazer com
a máxima perfeição possível na prece, no contato com os outros,
inclusive com os familiares, no trabalho, no apostolado. Ser sempre
diligente espiritualmente e em todas as ações, vivendo a mensagem da
encíclica do Papa Francisco “Ser todos Irmãos”(Fratell tutti), certos
de que a ferramenta para unir a humanidade é a cultura da
fraternidade. Quem admira Jesus, que fez bem todas as coisas, deve ser
severo consigo mesmo, mas manso e humilde perante todos os irmãos.
Aquele que imita Jesus pratica com a máxima perfeição possível o que
deve fazer não para causar boa impressão aos outros ou por mera
vaidade ou outras intenções meramente terrenas, mas porque Deus não
ama as más ações ou o que é mal feito. Lemos na Bíblia que toda obra
de Deus é perfeita (Deut 31,4). O Senhor por intermédio de Moisés
declarou ao povo de Israel: “Vós não me oferecereis qualquer oferenda
que tenha defeito, pois ela não me seria de meu agrado (Lev 22,20),
Daí total aplicação àquilo que se esteja fazendo para que tal ação
seja do agrado divino. Vemos pela narrativa de São Marcos que Jesus ao
operar a cura do surdo mudo agiu com sumo capricho, pois Ele colocou
os dedos nos ouvidos do surdo e tocou depois sua língua com o dedo
humedecido de saliva. Era assim que se procedia na medicina, não só
em Israel, mas ainda em todo o mundo greco-romano. Jesus, completou
tudo isto olhando o céu, para bem significar àquele pobre homem de
onde lhe viria sua cura. O poder de Deus iria se manifestar. Jesus
suspirou, bem significando com isto o gemido da humanidade sofredora,
o longo pranto de todos os doentes crônicos, lembrando a profecia de
Isaias sobre o Servo de Deus: “Ele tomou sobre si as nossas
enfermidades e levou as nossas doenças” (Isaias 53, 4-5). Depois vem a
palavra que completa a cura, palavra que São Marcos conservou tal qual
no aramaico popular que Jesus falava: “Effata!”. Abre-te, era uma
ordem. Esta palavra de Cristo curou o corpo e abriu os ouvidos e
soltou a língua do surdo mudo. Effata, abre- te, diz Jesus a todo
aquele que se fecha na sua solidão e carrega todo o sofrimento, como,
por exemplo, rancor interior. É o mesmo que Ele diz a todo aquele que
se acha fechado no seu passado e que carrega o fardo das lembranças
maléficas; a todo aquele que espera ser amado, mas se mostra irado
contra os outros; a todo aquele que sofre mais do que ele mesmo, que
é mais mudo, mais surdo, menos compreensível, porque decepciona os
irmãos. Effata- abre-te, sobretudo à palavra de teu Deus que vem
oferecer força, que vem enriquecer a cada hora, contanto que haja
espaço à esperança,. Effata- abre-te a toda mensagem que Jesus
sempre propõe.

Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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