Animadoras as palavras de Cristo: “Não tenhais medo’ (Mt 10,26-33). Não se trata dos temores fugitivos que atordoam a vida todos os dias.
O grande receio que o cristão deve vencer é, sobretudo, não testemunhar sua fé e sua união profunda com o divino Salvador. Num contexto histórico no qual se vive muitos, levados pelo respeito humano ou atemorizados por serem julgados ultrapassados diante das ilusórias manifestações do progresso tecnológico, correm o risco de negar por atos e palavras sua fé no Filho de Deus.
Este, porém, havia advertido: “Vós sereis odiados por causa do meu nome” (Mt 10,2). Ele foi perseguido a ponto de morrer crucificado e, portanto, a razão de não se temer o julgamento dos descrentes é que o destino de seu discípulo é imitar o seu Senhor, comprometido em tudo por Ele e com Ele.
Se Ele venceu o mundo, apesar de tantos sofrimentos, a coragem deve imunizar seu seguidor contra o medo, triunfando de todas as insídias armadas pelos meios de comunicação social. Trata-se de firmar sua fé não obstante tantos desvios éticos e dogmáticos que marcam a história contemporânea. Notável a afirmação de Jesus no Evangelho de hoje, “não há nada encoberto que não se deva tornar conhecido, nem oculto que não se venha a saber’ (v.26).
Mais hora, menos hora sempre brilha a luz vitoriosa que o verdadeiro cristão deve irradiar. Por meio de seus autênticos discípulos, que não se dobram perante os erros, Deus por eles, filhos e filhas fiéis a seu Evangelho, pode fazer luzir sempre no mundo o esplendor da verdade. O legítimo cristão é portador deste Deus que revela e assim nada precisa temer das mudanças culturais e históricas, nem das doutrinas contrárias ao que Jesus ensinou.
O que se deve temer, Ele asseverou, é o veneno irradiado pelo Maligno através dos canais televisivos, da internet em geral, isto deve ser evitado porque pode levar à morte do corpo e da alma e lançar na geena, local de suplício eterno pelo fogo. Este temor que é inclusive um dos dons do Espírito Santo é o medo de perder a Deus por entre as insídias diabólicas. O santo temor de Deus, no sentido bíblico, é respeito e afeição a tudo que se refere à sabedoria e majestade divinas.
Isto se consegue pela obediência filial perante as delicadezas daquele que é Pai amoroso, o qual, segundo Jesus, conta até os cabelos da cabeça de quem lhe é leal. Deve-se, isto sim, temer não perceber a ternura do Pai que está nos céus o qual se interessa pelos filhos que Lhe são devotados. Nada, portanto, de temer os juízos mundanos e o falso esplendor do que contradiz o Evangelho, porque quem é fiel a Deus cantará sempre um hino vitorioso por entre as lutas neste vale de lágrimas. O cristão que tem uma fé profunda confessa continuamente Cristo salvador e por suas ações se declara solidário a Ele em todo tempo e lugar, jamais O traindo.
Perseverança sem ceder a nenhuma tentação de impaciência perante o aparente triunfo do mal e a multiplicação de tantas seitas que renegam a verdadeira Igreja de Cristo. Jesus, porém, conta com a lealdade do autentico católico que fica firme, irradiando por toda parte a santidade de vida que flui de sua fidelidade a seu Senhor. Tal é o apelo do Mestre divino a proclamar “Não tenhais medo”.
A hostilidade do mundo passa e o cristão estará sempre a repetir: “Creio na Igreja una, santa, católica e apostólica”, nela deparando todo consolo e amparo que vence qualquer temor que pode paralisar e desnortear. Através dos séculos quantas turbulências têm surgido, mas tudo resta nos arquivos da História, lançadas no passado. A Palavra de Deus, porém, difundida pela Igreja segue seu curso inexorável e, assim, nada a temer. É preciso exorcizar os fantasmas de prognósticos pessimistas e crer sempre no triunfo da verdade, contribuído para que a Palavra de Deus continue por toda parte a iluminar os corações de boa vontade. Esta realidade não é captada pelas câmaras da televisão a endeusar a falsidade e a destacar sempre os crimes e não os atos virtuosos provindos da vivência do Evangelho.
É preciso coragem para vencer estes obstáculos, temer, isto sim, as artimanhas do inimigo da salvação eterna de cada um. “Não tenhais medo” nos diz Jesus, isto porque Deus é fiel e firmará sempre quem o ama e teme na esperança e na paz e o testemunhará diante do Pai que está nos céus.
Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos