As tribulações desta vida são para o autêntico cristão caminho de santidade, pois exigem esforço e paciência. Jesus é sempre o guia, o companheiro de jornada que ajuda a superar todos os obstáculos. Com Ele não há provações insuperáveis, sejam elas as inerentes à existência neste exílio terreno como as doenças, as separações dolorosas, mas também as advindas da renúncia na prática das virtudes. As primeiras é preciso evitá-las o máximo possível; o empenho, porém, na luta em busca da própria perfeição é uma exigência contínua de Cristo: “Sede perfeitos como o Pai celeste é perfeito” e supõem abnegação. O ideal é a semelhança com Aquele que carregou sua cruz até o Calvário. Com Ele é preciso suportar o fardo de cada dia, não duvidando, mas reunindo e aplicando todas as forças no combate aos vícios e paixões desordenadas.
Os verdadeiros discípulos de Jesus sabem superar seus sofrimentos com uma confiança absoluta na graça divina. Aplicam todas as suas energias transformando os espinhos de suas vidas em pétalas para a eternidade, renunciando sabiamente a si mesmos, nunca se afastando de Deus. Fazem das suas aflições um caminho para o céu e, assim, resolvem todos os seus conflitos interiores e amarguras externas. Acatam em tudo a vontade de Deus e este Deus, interiormente, os sustenta. Num sublime paradoxo se trata do sofrimento amado, afastando sempre o atordoamento, a recalcitração. Entrega absoluta nas mãos da Providência divina e disso resulta, em todas as circunstancias, no autodomínio absoluto.
O autêntico seguidor de Cristo saber dizer com Ele: “Meu Pai, se é possível, afaste-se de mim este cálice; todavia, faça-se a tua vontade e não a minha”. Não transfere então nunca o peso de suas angústias para os outros, mas, ao contrário, ajuda aos que também sofrem através de seu exemplo e suas palavras oportunas. Tudo isto só é viável à luz da eternidade, aceitando, inclusive que não se alcance indebitamente, egoisticamente, cedo demais, uma felicidade que só será completa um dia na Casa do Pai. De fato, diante do Eterno fica mais fácil conviver com as amarguras transitórias deste mundo.
O cristão não encara sua trajetória nesta terra como o filósofo alemão Arthur Schopenhauer para o qual “a vida é uma senda de carvões em brasa apresentando, de onde em onde, raros pontos de refrigério”. Segundo ele, “devemos ser miseráveis e o somos”. Não reina, porém, este pessimismo perverso na mente do cristão, pois este sabe que sofre, mas sabe também a razão pela qual sofre, estando unido a Deus e vê no reverso da fragilidade humana a onipotência e sabedoria infinitas deste Deus ao qual se entrega com coragem.
Sabe que o Ser Supremo prova sua criatura com doçura e muitas vezes se cala por algum tempo como para ver até onde cada um capaz de perseverar, aguardando novamente sentir sua presença inefável. Convida sempre, porém, a endireitar a marcha para a felicidade perene.
A verdade é que o sofrimento aproxima de Deus a quem se deve a generosa homenagem da fé e de um amor sem limites. Saber suportar as tribulações é se purificar, se desprender das ilusões terrenas e se encher de luz divina, progredindo nas sendas da santificação.
O que a sensibilidade humana repele, a graça divina ajuda a valorizar e é neste valor que se baseia um juízo sensato do que venha a ocorrer, vendo em tudo um anúncio e o segredo do céu. É um aprendizado laborioso, mas meritório. É necessário então o amor a Deus na falta do qual o sofrimento amargura e desorganiza a alma em vez de iluminar. Infeliz é aquele que carrega a cruz, mas não está com o divino Redentor. A posse de si mesmo leva a ultrapassar os obstáculos e estar com Jesus, Fonte de toda energia, é deparar a serenidade mesmo nas turbulências Nestas cumpre refletir a paz de Cristo e seu lenitivo para dele receber vigor a cada passo. Jesus é o sustentáculo dos que sofrem e nunca os abandona É desse modo que íntegro e perfeito é o conúbio entre a alma e o seu Deus.
Felizes daqueles que compreendem isto e dão a isso seu consentimento e encontram nisso mesmo seu conforto. É que esse contato com Ele não é consolo transitório que está na espera de uma libertação temporal da dor, mas na confiança que a recebe como um penhor e nela reconhece a dileção divina. A esse cristão Deus oferece sempre a vitória, fazendo que ele não veja mais na dor um problema, mas a chave para muitos méritos para a eternidade.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos