O cerne das palavras de Jesus ao dar missão aos doze apóstolos deve ser entendido no seu sentido mais profundo de uma metodologia admirável (Mc 6,7-11). Ele queria que a vida dos que Ele enviava se modelasse de acordo com a palavra que eles anunciassem. O programa de ação de seus evangelizadores não estaria sujeito a um mero formalismo, como caminhar trazendo consigo um bordão, mas deveria ser entendido na significação mais ampla. São ordens de uma densidade imensa, dado que eram baseadas em maravilhosas diretrizes. Inculcavam confiança absoluta na Providência divina de quem viria tudo que fosse necessário para a atividade missionária, donde o desapego dos bens materiais, de tudo que fosse supérfluo. Eram uma mensagem para o sucesso espiritual de uma missão sublime. Jesus queria que o pregador da boa nova não estivesse envolto em nenhum interesse pessoal. Seria com estes ingredientes que os pregadores do Evangelho expulsariam demônios e curariam enfermos.
É, deste modo, que através dos tempos continuariam a agir os evangelizadores, a saber, os papas, os bispos, os padres, os catequistas, os pais, os educadores os intercessores. Todos eles a expulsarem os demônios dos vícios, dos pecados mais abomináveis a curarem através da Palavra divina as enfermidades do corpo e da alma, irradiando paz e amor.
Os esposos sendo testemunhas da aliança de Deus, todos os cristãos procurando serem outros Cristos, iluminando o contexto social em que vivem. Ao enviar os apóstolos dois a dois Jesus mostrava o valor do trabalho missionário em equipe, visando efeitos espirituais. Jesus inoculava também um intenso espírito de pobreza, condição para o êxito apostólico.
Nem todo mundo aceitaria o projeto de Deus, a aventura de ser cristão em profundidade, mas eles se condenariam por não aceitar as mensagens divinas. Eis aí o paradoxo cristão, dado que a Palavra de Deus respeita sempre a liberdade humana. Por causa da infidelidade muitos correriam o risco da alienação ao dar preferência às ilusões terrenas de onde surge a oposição ao Evangelho. Deus oferece sempre a felicidade e a verdadeira alegria, mas muitos, como o Filho Pródigo, as desprezam e preferem o pó das iniquidades que se voltarão conta eles mesmos, fruto das misérias de suas devassidões.
Sem a correspondência às oportunidades oferecidas por Deus faltará sempre a muitos o elã que o Espírito Santo imprime na vida dos que recebem, ouvem e praticam as inspirações que Ele oferece através das pregações evangelizadoras. Donde o cuidado que se deve ter em não confundir certeza com indolência espiritual, fé e infantilismo religioso, confiança filial e abandono das obrigações próprias de cada um. Uma reinvenção errônea da Palavra de Deus causa todo tipo de desgraça bem alertado por Cristo, resultando o desprezo da graça advinda da pregação profética. Esta pregação emana do exemplo e da palavra de cada cristão que é um ser humano chamado e enviado aos outros.
Trata-se do apelo contínuo à conversão, pois tal é a missão do evangelizador: fazer um apelo à interiorização da Palavra divina. Então, a ação de satanás é impedida e se instala uma nova arte de viver mais próximo de Deus, mesmo porque a ação final nunca é do evangelizador, mas provém de Cristo Ressuscitado que envia todo cristão para obra de tão transcendental importância que é a salvação para todos, missão conferida a todo batizado que participa do múnus profético do Redentor. Grande, portanto, a responsabilidade de cada cristão que deve anunciar o Evangelho onde quer que viva. Com a graça de Deus o cristão pode e deve tirar os outros da esfera do mal e do pecado, atraindo o pecador para o bem.
Donde ser imprescindível a coerência de vida para que o bem possa se irradiar. O programa de evangelização traçado por Cristo foi vivido intensamente pelo Apóstolo Paulo que assim se expressou: “Ai de mim se eu não evangelizar”. É por isto que ele se colocou inteiramente a serviço de seus irmãos e à causa da evangelização. Ele se fez escravo de todos para salvar a todos (1 Cor 9,19-23).
A seu exemplo os evangelizadores, incluídos, é claro, os catequistas, devem ter uma grande dileção para com seu público alvo. O Apóstolo falava até num certo ciúme que havia em seu coração com relação a todos que orientava e guiava (2 Cor ll,2). A este apostolado ele consagrava todas as suas forças de sua rica personalidade.
Tornou-se, realmente, um exemplo para todos os evangelizadores. Isto vinha de sua paixão por Cristo que Ele desejava fazer conhecido e amado. A ele estava sempre profundamente ligado. São João Crisóstomo afirmou: que o coração de Paulo era o coração de Cristo. Imitando este apóstolo todos que se dedicam à evangelização realizarão inteiramente o programa pastoral traçado por Jesus no Evangelho de hoje.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.