A vida religiosa contemplativa, presente nos Mosteiros, é, de fato, o sustento do mundo e da Igreja. Certa vez um determinado autor disse: “Uma pequena comunidade de monjas anciãs, que, humanamente falando, está no fim, morrendo, consola mais o mundo do que uma grande comunidade florescente que pensa que é preciosa e fecunda pelo que faz e expressa, e por como faz e expressa o que faz”.Partindo dessa premissa, vamos comparar o mundo corrido e acelerado de hoje, com a vida religiosa contemplativa.
Neste contexto secularizado,grandes preocupações pelo desempenho rápido e produtivo, bem como uma vida profissional eficaz,têm ganhado destaque. Por conseguinte, cada vez mais, se tem aumentado as doenças psicológicas como a depressão, a síndrome do pânico, síndrome de burnout. A meditação, o silêncio, a leitura já não tem espaço para o ser humano “evoluído”, da produção, da cultura tecnocrática e pragmática. Isso tem acontecido por que as pessoas não se dão conta de si, da sua real identidade, e, mais ainda, não estão tendo tempo para os seus e nem para si mesmas. Com isso, pensa-se mais no lucro, no profissionalismo, no desempenho eficaz e esquece-se do cuidado consigo e com os outros.
O mundo evolui rapidamente. Novos meios e objetos tecnológicos estão substituindo o trabalho humano, não havendo necessidade mais de mão-de-obra em tantos serviços. Tem-se, no entanto,uma grande ilusão de que esses meios são os responsáveis por levar o homem à felicidade. Há uma felicidade extremamente paradoxal, no qual, para ser feliz, segundo os parâmetros mundanos, deve-se consumir cada vez mais e mais. Todavia, o consumo não colabora na completude desse coração tão necessitado de sentido para sua vida.
Os Shoppings se tornaram ironicamente “Casas de Retiro” no mundo capitalista, desejando sugar cada vez mais o ser humano de si mesmo. Ademais, são lugares selecionadores, nos quais só entra quem tem condições para comprar. Ali, pessoas conseguem passar o dia todo passeando pelas lojas, comprando, indo ao cinema, alimentando-se, uma verdadeira cidade comercial. Não se vêem relógios, para não induzir a pensar no tempo cronológico e nem pensar no mundo que continua a girar fora. Uma verdadeira fuga da realidade. Além disso, mostra-se nesses lugares o ideal da felicidade: qual a melhor roupa que se deve comprar, qual o alimento, qual o ideal de aparelhos, e por aí vai. O corre-corre continua, as preocupações e os problemas permanecem existentes, estão sendo camuflados, jogados para “debaixo do tapete”.
O contrário disso, no meio de uma grande metrópole, na capital mineira, em meio ao barulho dos carros e das pessoas, eis que me deparei com um lugar diferente, do qual desejo dar testemunho. Lugar do Silêncio, da Meditação, da Contemplação e do Trabalho. Em plena modernidade, mais de 40 mulheres vivem em umacomunidade monástica, no Mosteiro Nossa Senhora das Graças, conforme a Regra de São Bento, escrita no século VI. De fato, um verdadeiro testemunho de vida para todos nós que vivemos nesta correria diária. Essas religiosas,a partir do encontro com o Ressuscitado, foram capazes de perceber o que é o essencial para vida. Perceberam quea verdadeira felicidade não são as compras, o poder, as honras, as riquezas, o prestígio, o muito fazer, mas é o viver na simplicidade, no despojamento de si. Gastam seu tempo rezando nas diversas horas o Ofício Divino santificando cada momento do dia e intercedendo pelo mundo, também em boas leituras, em meditações espirituais, e, também, notrabalho diário. Percebem os sinais de Deus nas pequenas coisas. Uma vida vivida na humildade, no reconhecer de que não somos capazes de tudo, e, muito menos, que devemos ser perfeitos para fazer tudo com eficiência, acumulando riquezas.
Vale a pena ressaltar que o monge não é aquele que foge do mundo e nem pode ser, pois como bem disse Thomas Merton, “o monge tem de permanecer real, e só o poderá ser mantendo-se em contato com a realidade”. Por isso, diante das incongruências do mundo são pessoas que conseguiram encontrar-se com a verdadeira felicidade e possuem a verdadeira liberdade.
Percebi no sorriso de cada irmã um reflexo de pessoas que, de fato, encontraram a alegria, a razão de ser e estar nestemundo, mesmo diante dos desafios. Pessoas que reconheceramo potencial único que se tem dentro de cada um. Nós, que estamos aqui do lado de fora dos muros do Mosteiro, temos também um gigantesco segredo da alegria dentro de nós, como estas mulheres de Deus. Por isso, não podemos deixar com que o mundanismo nos roube o essencial de se viver, nos roube a nós mesmos. Precisamos parar um pouco, fazer silêncio, nos ouvir, fazer uma boa leitura que nos engrandeça, uma meditação e até mesmo relaxar de vez em quando para que não percamos o sentido de viver e muito menos o essencial. Já dizia Saint Exupéry na obra “O Pequeno Príncipe” que “o essencial é invisível aos olhos, mas visível ao coração”. De tal maneira, se não ficarmos atentos, não adentrarmos o nosso ser mais profundo, nunca encontraremos o essencial para se viver, mas, ao contrário, buscaremos cada vez mais o que é supérfluo.
O grande diferencial dessas irmãs pode ser observado por meio da vida de oração e da liberdade interior que buscam viver cotidianamente. Por isso, é um grande escândalo para o mundo. Descobriram o essencial da vida. Por isso, termino exortando: “não temas o essencial!” (Dom José Tolentino de Mendonça), pois, dentro de cada um há o gigantesco segredo da alegria.