Ao anunciar Jesus o pão da vida, prometendo a Eucaristia, muitos O abandonaram, dizendo “É dura esta linguagem, quem pode escutá-la”. Os que ficaram fiéis, porém, deram o motivo de sua fidelidade: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. (Jo 6, 60-69). Estas palavras, realmente, mostram que Deus é amor e garantem a lucidez e a paz. Levam a crer neste Deus que nos ama. Elas oferecem o sustento para a vida espiritual e dão a segurança de encontrar a salvação. Quem as coloca em prática um dia verão novos céus e nova terra. Através de suas palavras o Senhor perscruta o mais íntimo de cada um e quem nele crê percebe sua mão carinhosa a lhe guiar os passos nesta terra.
Quem vive na luz das mensagens divinas não conhece trevas, pois elas conduzem para o caminho da eternidade feliz. Mostram quão maravilhosas são as obras do Criador e impedem a adesão aos ídolos terrenos, pois fazem perceber que o cristão autêntico tem parte na herança dos santos. Felizes se sentem então os que trabalham no santo temor de Deus, pois as palavras divinas produzem neles a vontade e a ação, sabendo que o Pai celeste só lhes deseja o bem. Tudo operam sem recriminação e sem desânimo, irrepreensíveis e puros como filhos bem-amados e sem manchas mundanas.
Por tudo isto exaltam sempre as palavras proferidas por Jesus e nelas têm todo apoio, nada lhes podendo atemorizar. Claras as declarações de Cristo: “O espírito é que vivifica, a carne para nada serve; as palavras que eu vos disse são espírito e vida”. Eis aí a novidade trazida a esta terra pelo Filho de Deus, mas para aceitá-la é preciso uma fé profunda oferecida pelo Pai do céu.
Supõe simplesmente crer, numa esperança inabalável num novo universo venturoso garantido por palavras de vida eterna, levando a uma abertura ao mistério de Deus. Muitos dos discípulos de Jesus, segundo o Evangelho de hoje, voltaram atrás e não andavam mais com Ele. Do desejo de seguir Jesus e da atração para uma crença profunda há um passo a mais que todos nós devemos dar, ou seja, uma conversão contínua porque os caminhos do Senhor são exigentes.
Os doze apóstolos ficarem firmes na fidelidade a Jesus, mas os outros discípulos disseram: “É rude tal linguagem, quem pode escutá-la?”. Não é fácil seguir Jesus e é por isto que a cada semana nos reunimos em torno da Eucaristia para não nos deixarmos esmorecer diante das falsidades veiculadas pelos meios de comunicação social e de tudo que deslustra o Evangelho.
Cumpre desatravancar nosso espírito, removendo o que pode afetar a fé, desobstruindo os caminhos para a claridade celeste. A vida espiritual supõe luta contínua visando a correspondência à graça. Este combate é necessário para o crescimento em todas as virtudes. O espírito do mundo é adverso ao espírito de Cristo e todo cuidado é pouco para poder sempre dissipar as dúvidas.
Não podemos ficar fiéis a Jesus com nossas próprias forças. É preciso pedir os auxílios da graça, dado que Ele afirmou: “Ninguém pode vir a mim se isto não lhe é dado pelo Pai”. O problema, portanto, não é perder a fé, mas deixar de pedir a proteção divina para que venha em ajuda à fraqueza humana.
Crer e saber, como disse São Pedro: “Nós cremos e sabemos que tu és o Santo de Deus”. É necessário, de fato, ter a fé para compreender tudo que Deus revelou através de Jesus. O que muitos ignoram é que o conhecimento profundo de Deus decorre da fé. É por isto que a fé desafia a lógica humana. Entretanto, na nossa caminhada somos livres. Muitos discípulos abandonaram a Jesus.
Este sabia quais eram os que acreditavam e os que não mais criam nele. Não foi Jesus quem abandonou os que não mais O seguiam, mas eles mesmos é que tomaram esta infeliz decisão. Deus nunca se impõe. Ele se propõe. Pensemos nisto.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.