1- O que significa QUARESMA?
Etimologicamente, Quaresma significa “quarenta”, um número simbólico, muito usado na Bíblia. O povo de Deus caminhou quarenta anos no deserto, em busca da terra prometida; o dilúvio durou quarenta dias e quarenta noites, para purificar o povo de seus pecados (cf. Gn 7,1-24); Moisés permaneceu, na montanha, diante de Deus, quarenta dias e quarenta noites, recebendo suas orientações (cf. Ex 24,1-18); Jesus jejuou, no deserto, quarenta dias e quarenta noites, preparando-se para a sua missão (cf. Mt 4,1-11). É o tempo necessário para se realizar o plano de Deus, no que se refere à nossa salvação.
Liturgicamente, a Quaresma é o tempo adequado de preparação para a Páscoa, na qual a Igreja celebra um dos mistérios principais de nossa fé, a Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Com Ele, nós, também, morremos para o pecado e ressuscitamos para a vida da graça, mediante o Batismo e o Sacramento da Penitência.
2- Qual o sentido de fazer jejum e penitência no tempo quaresmal? Como o cristão pode viver bem esse momento?
O jejum é um tipo de penitência. Além do jejum dos alimentos, há, também, o jejum dos olhos, dos ouvidos e da língua. Moderar a quantidade de alimentos, pensando e ajudando aqueles que passam fome; selecionar as imagens, que entram pelos olhos, pois, eles são as janelas da alma; vigiar os ouvidos para que eles não sejam depósito de conversas maliciosas e enganadoras; frear a língua, para não danificar a boa fama dos outros.
A penitência serve para fortalecer o espírito no combate contra o mal. Ajuda-nos a dominar os instintos descontrolados e as paixões desorientadas. Na quaresma, de modo especial, a penitência é um instrumento eficaz contra o pecado. Livres deste peso, podemos alçar o vôo para as alegrias da Páscoa.
Para viver bem este momento da Quaresma, o cristão deve sintonizar seu coração, com as orientações da Igreja; intensificar os momentos de oração, valorizando a prática da Via Sacra; preparar-se para fazer uma boa Confissão, desapegando-se de todos os pecados, inclusive, dos veniais; renovar, com espírito de fé, as “promessas batismais”; participar da Campanha da Fraternidade, que é, entre outras, uma maneira concreta de conversão e de solidariedade cristã.
Lembro que, neste ano, o tema da Campanha da Fraternidade é “Fraternidade: biomas brasileiros e a defesa da vida”. O lema nos conscientiza de que devemos “Cultivar e guardar a criação”. Da forma que tratamos a natureza trataremos, também, nosso corpo e o próprio corpo social, pois somos parte da criação.
3- Por que os sacerdotes usam paramentos roxos, durante a Quaresma? Por que as imagens são cobertas?
O roxo é a cor da penitência, do despojamento, da renúncia e da conversão. Vendo-a, estampada, em nossas igrejas, o cristão se lembra destas realidades, que fazem parte da preparação para a Páscoa. Todos nós somos sensíveis aos sinais. Eles nos recordam que estamos vivendo um tempo diferente do ciclo litúrgico, ao qual devemos acompanhar com o coração contrito.
Também os altares e as imagens são cobertos de roxo, para significar que o essencial da Quaresma é a meditação sobre a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo. Nada nos deve distrair deste objetivo. A contemplação destes mistérios deve ocupar toda a nossa atenção, de modo que eles tenham prioridade absoluta. Nada os pode impedir. Todos os obstáculos devem ser retirados.
Acrescente-se, ainda, que durante a Quaresma, é proibido ornar os altares com flores. O toque de instrumentos musicais só é permitido para sustentar o canto. Em todas as Missas e Ofícios, omite-se o “aleluia”. Na celebração do Matrimônio, devem-se admoestar os esposos que se abstenham de demasiada pompa. A sobriedade nos faz valorizar a cruz, que foi o instrumento de nossa salvação.
4- O que representam as cinzas, na Quarta Feira de Cinzas?
A Quaresma começa com a Quarta Feira de Cinzas, dia de jejum e abstinência. Termina com a Missa da Ceia do Senhor, exclusive. Na Santa Missa, de Quarta Feira de Cinzas, após a proclamação do evangelho e da homilia, o sacerdote benze e impõe as cinzas sobre nossas cabeças. Este gesto bíblico tem os seguintes significados:
1) Indica nossa disposição para uma profunda e eficaz conversão. É isso que o sacerdote diz a cada um, no momento de impor as cinzas: “Convertei-vos e acreditai no evangelho”.
2) Oferece-nos uma lição de humildade. Viemos da terra e à terra retornaremos. A vida é efêmera. Devemos aproveitar dela para fazer o bem. A Sagrada Escritura nos diz: “Lembra-te, homem, que és pó e em pó te tornarás” (Gn 3,19). Num sermão, sobre este tema, nos diz o Pe. Antônio Vieira: “Os vivos são pó levantado, os mortos são pó caído; os vivos são pó que anda; os mortos são pó que jaz”.
3) Recorda-nos que todos somos iguais. Não há espaço, em nossa vida, para o orgulho e a vaidade. Temos a mesma origem, a mesma natureza e o mesmo destino. Os talentos, que temos, são dons de Deus a serem colocados a serviço de todos.
Concluindo estes temas, deixo aos leitores três lembretes: 1) Fazer da Quaresma uma longa pausa. Entrar dentro de si mesmo e falar a sós, com Deus, no silêncio do coração. É o melhor modo de nos preparar para a Páscoa, o objetivo central deste tempo sagrado; 2) Fazer do jejum e das demais penitências uma academia para a saúde e a beleza da alma. Os símbolos e a austeridade da Quaresma nos servem de incentivo; 3) Receber as cinzas como um compromisso de mudança de vida: “Deixar de fazer o mal e aprender a fazer o bem”.