Num momento de pulcra inspiração o apóstolo Pedro legou-nos uma
resposta maravilhosa, mostrando que Jesus é o Cristo, o Filho do Deus
vivo (Mt 16.15-20). Sua profissão de fé assinalou uma grande mudança
na vida pública de Jesus. Este a partir de então vai privilegiar a
formação de seus discípulos mais próximos e começar a lhes anunciar
sua paixão e ressurreição. Na verdade a questão levantada pelo Mestre
divino “E vós quem dizeis que eu sou”, resume bem um pouco a tônica
do ministério de Jesus na Galileia. Depois de tantas horas de
pregação, de caminhadas repletas de curas e de milagres, as pessoas
tinham opiniões diversas sobre quem era Cristo que a tantos fascinava.
No máximo eles tinham a ideia de compará-lo a personagens já
conhecidos como Jeremias ou João Batista ou ainda a um profeta como
Elias, do qual se esperava o retorno como sinal dos tempos do Messias.
A declaração de Simão Pedro vai muito mais longe, porque ele aceita
ultrapassar o nível da carne e do sangue, ou seja um julgamento
puramente humano e com os critérios habituais das sociedades humanas.
“A carne e o sangue” é o homem deixado preso em seus limites. Em seus
horizontes terrenos, inapto para as novidades de Deus. Diante de Jesus
o Enviado de Deus, é tudo isto que é preciso ultrapassar para poder
lhe dizer “Tu és o Cristo.” Não somente tu nos lembra os grandes
crentes do passado, as forças proféticas do passado, mas tu és, tu
mesmo, o Messias esperado que nos abre o futuro”! Simão Pedro ajunta,
“tu és o Filho do Deus vivo” e assim ele ousa declarar o mistério que
já o fascina na pessoa de Jesus, pois ele age, ele fala, ele vive para
aquele que ele ternamente chama “meu Pai”. Simão deixou-se iluminar
por Deus, ele deixou Deus “o atrair para Jesus” (Jo 6,44). Prontamente
após sua resposta de fé, que é um engajamento diante de todos por seu
amigo Jesus, Simão vai viver um instante de graça extraordinária.
Imediatamente Jesus faz dele o portador de uma beatitude:
“Bem-aventurado, es tu Simão, filho de Jonas!”. Esta beatitude, isto
é, a felicidade anunciada daqueles e daquelas que sabem fazer e
refazer o passo da fé e que ousam tudo colocar sob a palavra do divino
Amigo. Depois Jesus lhe dá um nome novo que será programa de vida: “Tu
es Pedro e sobre esta pedra edificarei aminha Igreja”. Eis aí uma
palavra criadora e recriadora. Jesus diz e faz. Doravante Simão, o
pescador, será rochedo de fundação para a Igreja de Jesus. A
experiência de Simão Pedro, de Simão o Rochedo, tem muito a nos dizer.
Com efeito, é seu privilégio ser a pedra de fundação, o porta-voz e o
responsável dos Doze, o segundo pastor depois de Jesus. Nós não somos,
de nossa parte, senão pedras vivas, inseridas na construção.
Entretanto, num certo sentido e a nosso nível, nós temos que nos
tornarmos pedra de fundação, seja para a família, seja para a obra que
nos é confiada, seja para todos aqueles sobre os quais temos alguma
influência, seja para todos aqueles que se engajam num apostolado,
enfim onde estivermos. Eis os sábios pensamentos de Santa Terezinha:
“Considerai-vos sempre como pedras de fundação para aqueles que
tenhamos influenciado por palavras e obras”. Para fazermos isto basta
seguir a via aberta por Simão Pedro. Precisamos ultrapassar a carne e
o sangue, cessar de tudo impregnar nas proporções estabelecidas pela
nossa inteligência e o nosso coração, parar de fazer esperar o Mestre
ao lhe regatear nossa fé e nossa confiança e sobretudo ousar dizer a
nosso amigo Jesus a palavra para nós decisiva: “Tu és o Cristo, o
Filho de Deus, a ti eu entrego todas a mias forças hoje e para
sempre”. É preciso sermos dóceis, maleáveis, diante de Deus, que
pacientemente, paternalmente, nos atrai para Jesus, assimilando tudo
de bom que se recebe da comunidade de Jesus, reunidos fraternalmente
em torno de Pedro, o Pastor supremo depois do Mestres divino,
obedientes às inspirações que nos chegam da parte dos guias que Deus
nos dá, por vezes, desprezadas, mas que são para nós fontes de luz.
É-nos preciso entrar na beatitude de Simão, o Rochedo, na felicidade
daqueles que confessam Cristo, que não se afastam de Cristo e que
aceitam uma fé que os leva a fazer tudo sob a luz de Jesus Salvador.
É-nos preciso enfim este esforço que nos reserva uma grande alegria e
uma grande tranquilidade que é estar atentos filialmente para perceber
o nome novo que a boca do Senhor pronunciará (Is 62,2), o nome da
amizade e da graça que Jesus ofereceu por nós e que marca por sua vez
nossa missão na Igreja e nosso lugar no coração de Deus. Nós estamos
ligados a Cristo por nosso batismo e por nossa prece que deve nos
levar ao caminho de nossos irmãos. *Professor no Seminário de Mariana
durante 40 anos.