Receber o Espírito Santo

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A solenidade de Pentecostes lembra aos discípulos de Cristo o início de sua vida cristã. O que era uma promessa de Jesus se torna com o dom do Espírito Santo seu completo acabamento. Jesus havia dito aos apóstolos: “Eu pedirei ao Pai e ele vos dará um outro Consolador para estar convosco para sempre, o Espírito da Verdade” (Jo 14, 16-17). Donde ser necessário receber o Paráclito que vem completar no fiel sua personalidade espiritual.

O Espírito atesta que somos filhos de Deus (Rm 8,16), respirando e vivendo de sua bondade infinita de sua ternura sem limites. Esta filiação divina é a marca típica do seguidor de Cristo. Daí esta grandeza maravilhosa, porque, como mostrou São João na sua primeira carta, “Deus é luz e nele não há quaisquer trevas” (1 Jo 1,5), Acrescenta este apóstolo que os fiéis, andando nesta luz, a qual é o seu Senhor, estão em comunhão mútua e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, purifica-os de todo o pecado. Ele envia raios de sua luz, iluminando o coração dos seus seguidores, fazendo-os criaturas novas. Isto porque, como mostrou São Paulo, cada um se torna uma carta de Cristo escrita com o Espírito de Deus vivo (2 Cor 3,3). Por isto o cristão passa a aspirar as coisas do alto e não as da terra com suas ilusões pecaminosas.

O discípulo de Cristo vive de uma novidade indescritível, pois sabe que Deus está presente nele. Eis porque o cristão é herdeiro deste Deus através de Cristo, herdeiro de sua glória graças à presença do Espírito Consolador. Nunca se valoriza demais esta sublime realidade a qual mostra quão precioso é cada um para o Senhor. No dia de Pentecostes Deus confirma pelo seu Espírito que o cristão está coroado de glória e esplendor (Sl 8). É o mistério da majestade divina e da dignidade humana. O Espírito Santo, porém, faz o que Ele quer em nós, desde que não ocorra resistências à sua ação. Cumpre se lembrar sempre do alerta de São Paulo: “Não extingais Espírito” (1 Ts 5,19). Portanto, valorizar os carismas, os dons, os frutos que Ele oferece, significa ser maleável à sua ação, evitando tudo que contraria sua atuação. A salvação de cada um está ligada à correspondência aos desígnios celestes advindos do Espírito divino. Ao autêntico seguidor de Cristo se dá o que Deus asseverou através do profeta Ezequiel: “Dar-vos-ei um coração novo e porei em vós um espírito novo; arrancarei o coração de pedra das vossas carnes e dar-vos-ei um coração de carne. Porei dentro de vós o meu espírito e farei que cainheis nos meus estatutos e observeis os meus ditames e os ponhais em prática” (Ez 36, 26-27). Então o Espírito Santo, recebido pela fé e pelo batismo, leva cada um a se imergir na salvação realizada por Cristo. De fato, é a lei do Espírito que dá a vida em Cristo Jesus (Rm 8,2). Sem a graça do Espírito Santo, mesmo o Evangelho, mesmo o Mandamento novo do amor mútuo não passariam de uma lei antiga, de uma palavra estéril. De fato, o Mandamento novo e tudo que Jesus ensinou nas Bem-aventuranças são uma novidade porque o amor foi difundido nos corações dos cristãos pelo Espírito Santo. Com sua vinda, uma nova luz brilhou, como explicou São João na sua primeira carta (1 Jo 2,7-8).

É que como afirmou São Paulo a “letra mata, só o Espírito vivifica”. Santo Tomás mostrou que a palavra escrita fica exterior ao homem. Sua vivência completa só é possível com a ajuda do Espírito da Verdade. Trata-se da inteligência da fé que leva a atitudes práticas de consequências concretas na vida cristã. É o acolhimento do Espírito Santo que renova o coração do seguidor de Cristo, então confessado firmemente num mundo hostil às realidades sobrenaturais. O cristão, desta forma, adere firmemente ao mistério revelado na pessoa do Salvador. O Espírito Santo confere a graça de conformar a vida aos preceitos evangélicos, vividos, existencialmente e espiritualmente, em todas as ações. Na luta contra os desejos da carne que se opõem ao espírito, levando à lamentável valorização das obras humanas e à exaltação das paixões desregradas, é preciso a renovação que o Espírito Santo opera interiormente nas almas de boa vontade. Esta renovação espiritual deve ser contínua e supõe perseverança. Cada dia é necessário crescer espiritualmente sob as luzes do Espírito de Deus que conduz a um princípio carismático e interior da vida nova. O Espírito de Jesus deve ser o fundamento da lei nova que orienta toda a vida do cristão. Este se interroga sempre diante de seu Senhor: “Que tenho feito para crescer no vosso amor?”. Cumpre descer ao mais profundo de si mesmo para descobrir os desígnios divinos, as iniciativas que Deus quer fazer por nós, em nós e conosco. O Espírito Santo nos leva pela palavra de Cristo aos páramos da santidade. O cristão fica atento à novidade do Espírito na prece, no cumprimento de seus deveres cotidianos e na evangelização. Então, o seguidor de Cristo, iluminado pelo Espírito Santo, passa a perceber a ação da graça nas menores ações, degustando a realidade do amor vitorioso. 


Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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