O Mestre divino com dois exemplos típicos apresenta o dever da
reconciliação (Mt 5, 17-25). No Antigo Testamento se depara uma lei
a seguir de uma maneira radical sob pena de sanções. No Evangelho se
encontra, porém, um ensinamento de misericórdia plena, total, que
apela para o caminho do coração ante a observância legal do preceito
da caridade. Poder-se-ia até julgar que Jesus nos chama somente a bons
sentimentos, deixando de lado a lei dos antigos. Isto, contudo, seria
um lamentável equívoco. Cristo não veio suprimir a lei antiga,
transmitida ao povo por meio de Moisés e dos profetas, mas Ele lança
um apelo a viver com o coração, com uma real adesão interior e não com
um formalismo exterior. Se viver a lei de Deus ou da Igreja é na vida
do cristão algo antes da relação do amor, alguma coisa errada se dá,
porque não há amor sem atos concretos. Assim, por exemplo, se alguém
participa diariamente da Missa, mas ao mesmo tempo não está a serviço
de sua família, não é cortês com os vizinhos, não cuida dos mais
necessitados, há falhas na existência deste cristão. Cumpre, além
disto, observar que Jesus insiste, claramente, num perdão cordial nas
relações entre os irmãos. Atitude bem real que deve marcar a vida
espiritual de seu discípulo, ou seja, a existência em comunhão com
Deus e união com o próximo. Trata-se da diferença entre a lei antiga e
a lei nova na qual Ele nos ensinaria a pedir ao Pai que nos perdoasse,
como nós perdoamos a quem nos tem ofendido. É preciso perdoar sem
cessar e sem limites mesmo porque diante de Deus nós somos objeto de
um perdão universal. Nossa vida repousa constantemente no perdão
divino sem o qual estaríamos perdidos. Note-se que também, com amor, o
perdão cordial é um dos aspetos da afeição muitas vezes difícil de ser
vivida inteiramente. O perdão é um elemento chave da vivência cristã,
existência na intimidade com Deus. Jesus pela sua presença realizou
a vontade de Deus de se aproximar do homem. É por isto que Ele diz:
“Não penseis que eu vim abolir a Lei ou os Profetas, não vim abolir,
mas cumprir” (Mt 5, 17). Ele veio para enriquecer, para aclarar, para
que todos os homens pudessem conhecer a verdadeira visão de Deus e
entrar em adesão íntima com Ele. Neste sentido desprezar as indicações
de Deus, por insignificantes que elas possam parecer, supõe um mui
frágil conhecimento do Ser Supremo, e ser certamente declarado
pequenino no Reino dos céus. Em nossa prece procuremos, portanto,
sempre seguir com uma absoluta fidelidade todos os desígnios do
Senhor. É assim que chegaremos a uma grande intimidade com Ele e que
seremos, em consequência, declarados grandes na pátria celeste. Este
Jesus que afirmou não ter vindo abolir a Lei, mas a cumprir, nele
temos a plenitude da Revelação. Ele é o Verbo, a Palavra de Deus que
se encarnou (Jo 1,14). Ele veio a este mundo para nos fazer conhecer
quem é Deus e o quanto Ele nos ama. Ele nos ama e espera do homem uma
resposta de amor, manifestada no cumprimento de seus ensinamento: “Se
vós me amais restareis fieis a meus mandamentos (Jo 14,15). A Lei e os
Profetas vividos na vida cristã. Na vida espiritual o importante é
praticar fielmente os desígnios divinos, permitindo que a graça
circule abundantemente em tudo que o discípulo de Cristo deseja e faz.
Trata-se de valorizar ao máximo a paixão e morte do Redentor que
operou no alto de uma cruz o perdão das iniquidades humanas. Nunca se
mentaliza demais esta verdade: “Uma alma que se eleva, eleva o mundo
inteiro”. O seguidor de Cristo não está sozinho em uma ilha, mas numa
sociedade a qual deve ser espiritualizada por suas boas obras. Donde
ser realmente de suma importância a observância integral da vontade de
um Deus santo e sábio. Um cristão que viola a Lei está a negar a
plenitude da vida que Jesus Cristo lhe que dar em abundância. Eis
porque é preciso em tudo estar atento para verificar se o ensinamento
do Mestre divino está sendo totalmente observado. É uma grande
responsabilidade se dizer discípulo do Redentor, pois isto deve
significar que se dá plena domínio sobre a vida de Jesus que é
recebido totalmente sem nenhuma restrição. Isto, porém, só é possível
se o fiel deixa o Espírito Santo agir nele difundindo o amor de Deus
no seu coração e por isto acatando as Leis de Deus (Rom 5, 5). É que
as Leis de Deus não se cifram numa questão de se seguir algumas
regras, mas devem ser o parâmetro do coração. Professor no Seminário
de Mariana durante 40 anos.