A Bíblia revela que para Deus o maior tesouro é a pessoa humana. Ninguém é descartável. Ao contrário, Deus gosta de confiar missão importante à pessoa idosa. Foi o que aconteceu com Abraão, com Zacarias, Isabel, com Simeão, a profetiza Ana, dentre outros. Em um dos livros sapienciais lemos: “Elogiemos os homens ilustres, nossos antepassados, em sua ordem de sucessão. (…) Os povos proclamarão sua sabedoria, a assembleia anunciará os seus louvores.” (Eclo 44, 1.10-15). E ainda: “Filho, ampara teu pai na velhice e não lhe causes desgosto enquanto vive” (Eclo 3,12). Rute se recusa a abandonar sua sogra Noemi, (Rt 2,23). A lei mosaica reserva uma tarefa ímpar para os idosos através do Conselho dos Anciãos. A sabedoria da experiência que adquiriram ao longo dos anos os torna idôneos na resolução de pequenas questões, até passarem a ter um papel decisivo na história do povo (Ex 18). A Liturgia das Horas segue o diapasão divino: “Ana, fecunda raiz, que de Jessé germinou, produz o ramo florido do qual o Cristo brotou. Mãe da Mãe santa de Cristo, e tu, Joaquim, santo pai, pelas grandezas da Filha, nosso pedido escutai”.
Os avanços da ciência e da tecnologia trouxeram o aumento do ciclo vital. Muitos governos cercam a longevidade de cuidados e têm legislação especial para protegê-los. Porém, numa sociedade consumista, dominada pelo espírito de produtividade, a pessoa idosa tende a ser considerada como um peso. Tende a valorizar apenas a faixa de idade que pode consumir mais, principalmente a juventude. A grande maioria dos aposentados não ganha o suficiente para uma vida digna, e suas famílias se vêem sem condições de cuidar deles. Casos há também em que avós, num tempo que deveria ser de descanso, têm a responsabilidade de cuidar de netos.
A Pastoral da Pessoa Idosa – PPI – surgiu para resgatar a dignidade humana, recordando que a terceira idade é tempo de viver, sorrir, cantar e curtir a alegria de percorrer os caminhos da existência. Uma doce aventura de ser jovem há mais tempo! Ao que interpõe o idoso: você é que não sabe o quanto nos custam dores, cansaço e maus tratos dos que não nos valorizam. É verdade, diríamos. Contudo, dificuldades e bênçãos se misturam com facilidade no planeta gente. O que não pode ficar esquecido é que o dom precioso da vida quanto mais se prolonga no chão da história, mais se desabrocha para a sabedoria. Tal confirmação se dá quando se concede o privilégio de ouvir com o coração e a vida o que brota das recordações e peripécias de quem assumiu a velhice como uma bênção do alto. Depois de afáveis encontros de sólida fraternidade, não há quem não queira abrir espaço em sua agenda para muitas outras longas horas de bate-papo, numa conversa cheia de casos e histórias transformadas em ricas alegorias…
Muitas vezes, a pretexto de amparo, subestima-se a pessoa, sem perceber sua real limitação. Insiste-se em ajudá-la onde está fortalecida. Por isso, sua defesa é zangar-se com a falta de perspicácia. Por exemplo, na lucidez, não é preciso adverti-la do perigo ou corrigi-la em sua fala. Basta ajudá-la no que está precisando: somente em sua locomoção. Tudo o mais é ofensivo e constrangedor. Basta ter uma postura amiga e descobrir em que se faz necessário ajudar.
Santa Madre Tereza de Calcutá, rejeitando a eutanásia, assegurou que não pode faltar amor para ninguém, pois a falta de estímulo com relação à conservação da vida se deve à falta de amor, de apoio e de carinho.
Admirar-se com o balbuciar das primeiras sílabas, dos primeiros passos da criança é fácil até para os mais endurecidos pelo mau humor. Contudo, descobrir os encantos e o aperfeiçoamento de tantas artes, (dentre elas a própria vida), nos que já percorreram uma longa trajetória das lutas e fantasias, isto sim, é tarefa de grandes almas, auxiliadas pela intercessão da SENHORA SANT’ANA!
Padre Paulo Dionê Quintão
Pároco de Santa Rita de Cássia, em Viçosa – MG