Na tarde daquela quinta-feira, dia três de abril, estava acontecendo o “Mutirão de Confissões” no Santuário Santa Rita de Cássia, quando fiz uma pequena pausa no atendimento, em razão de higiene pessoal, eis que chega uma mensagem no visor de meu aparelho celular: “Breno Martins. Confira as novas nomeações da Arquidiocese de Mariana. (…) Revmo. Padre Rodney Francisco Reis da Silva, nomeado Postulador da fase Diocesana da Causa de Beatificação e Canonização da Serva de Deus, Floripes Dornelas de Jesus, Lola”. No mês em que celebramos o 26° aniversário da Páscoa da Serva de Deus, esta notícia veio como um bálsamo para curar a ansiedade pela longa espera e alegrar nossa alma com o perfume de um futuro florido, descortinando o horizonte direcionado para o momento em que ela receberá a honra dos altares.
A edificante iniciativa de nosso Arcebispo Metropolitano, Dom Airton José dos Santos, nomeando o Postulador da Causa, neste momento em que há uma ampla divulgação com o testemunho do Médico Cláudio Bomtempo, dado com precisão cirúrgica nas mídias de todo o Território Nacional, acrescido ainda de inúmeras graças confirmadas na vida de tantas pessoas, tudo indica que esta nova etapa atingirá a velocidade do fogo escalando a montanha ou da água que desce frenética pelas encostas.
Puxando o fio da História.
Eram 22 horas de uma noite fria de 1999, precisamente, 8 de abril. Na tela do celular, visualizei 4 letras identificando a origem da chamada: “Lola”. Ainda no carro, regressando de sua residência, em companhia do Médico Cláudio Bomtempo, quando sua assistente me transmitiu a infausta notícia: Lola acaba de falecer.
Floripes Dornelas de Jesus nasceu em Mercês, Minas Gerais, aos 27 de junho de 1912. Por volta dos 4 anos de idade, transferiu-se com a família para o vizinho município de Rio Pomba. Perto dos 19 anos, sofreu um grave acidente, caindo de uma jabuticabeira, ficando paraplégica e com alterações em seu organismo, (pois não sentia mais fome, nem sono, nem sede. Passou a alimentar-se somente da Eucaristia), pediu insistentemente que não mais lhe aplicassem remédios, pois eles não surtiam nenhum efeito.
Sua confiança no Sagrado Coração de Jesus atraiu milhares de peregrinos à sua residência, prodigalizando inúmeras graças. Com filial obediência e gratidão, atendeu a orientação de Dom Helvécio Gomes de Oliveira, então Arcebispo de Mariana, interrompendo as romarias, passando a dedicar-se a todos, por meio do silêncio e da oração.
Falecendo aos 86 anos, milhares de pessoas acorreram ao seu velório, na Igreja Matriz de São Manoel, e seu túmulo continua sendo muitíssimo visitado no cemitério de Rio Pomba.
Que saudades daquela criatura de Deus! Sei que agora sua ajuda apostólica é muito maior. Mesmo assim, o sentimento humano clama a perda de sua companhia física. Que falta me faz o retorno materializado em tantas palavras profundas e gestos eloquentes em minhas incontáveis idas a sua casa! Dor que se transforma em regozijo cada vez que a fé nos põe diante de respostas traduzidas em graças conseguidas por ela junto de Deus.
Dentre as lições que Lola nos deixou, talvez a maior delas seja a confiança em Deus. Fazendo-nos salmodiar: “Minha alma confia no Senhor, mais que o vigia esperando pela aurora…”, ou ainda: “quem confia no Senhor é como uma árvore plantada à beira do riacho: produz frutos o ano inteiro e está sempre verdejante”.
Os devotos do Sagrado Coração de Jesus e, em especial, o Apostolado da Oração, ganharam uma fiel intercessora no Céu. Enquanto fisicamente entre nós foi a incansável divulgadora desta devoção, cremos que, na presença do Altíssimo, esta missão ainda se torna mais eficaz e duradoura.
Mesmo paraplégica e com tantas dores, ela sempre se interessou em retribuir com orações as visitas dos Sacerdotes. Quantas vezes, solidário à dor de alguém, não hesitei em pegar o telefone e ligar para ela. Do outro lado da linha, uma voz serena perguntava: “quem é que está chamando? ”. Antes da conversa terminar, já estava seguro de suas orações. A conclusão era sempre a mesma: “o senhor me dá uma bênção? ”. Depois da bênção ouvia um “Amém”, cheio de fé. Hoje continuo me servindo do mesmo mecanismo: paro, rezo e rapidamente está feita a conexão:
Deus Pai, que revelastes as maravilhas do Reino aos pequeninos, nós Vos agradecemos pelos tesouros de virtude e sabedoria que em vida concedestes a Vossa filha Floripes Dornelas de Jesus, Lola.
Nós Vos pedimos, pela força do Vosso Espírito, exaltai sua humildade, elevando Vossa fiel serva à honra dos altares.
Concedei-nos a graça da oração e total confiança no Sagrado Coração de Vosso Filho, e na proteção materna de Maria, para que um maior número de pessoas possa tê-La como intercessora e modelo de vida cristã. Amém.
Um Processo de Beatificação é, de fato, conduzido pelo Espírito Santo agindo na Igreja, por intermédio dos sagrados pastores. A postura de nosso Arcebispo, como Pastor desta Igreja Particular, nos assegura de quanto sabemos importante o legado deixado pela Lola; enchemos os pulmões e bradamos a boa notícia quão profícuo é este caminho que mereceu UM POSTULADOR PARA A CAUSA!