Discurso do Papa aos bispos nomeados nos últimos 12 meses se deteve no discernimento espiritual e pastoral
O Papa Francisco recebeu na Sala Clementina, no Vaticano, nesta quinta-feira, 14, os novos bispos ordenados nos últimos doze meses. Eles participaram de um curso de formação, promovido pela Congregação para os Bispos. O Brasil teve 20 representantes no encontro.
Francisco manifestou a alegria de conhecer pessoalmente e aprofundar com os novos bispos da Igreja a graça e a responsabilidade do ministério que receberam.
O discurso do Pontífice se deteve no discernimento espiritual e pastoral, necessário para que o povo chegue ao conhecimento e realização da vontade de Deus. O Espírito Santo é o protagonista de todo discernimento autêntico. “Somente quem é guiado por Deus tem título e credibilidade para ser proposto como guia dos outros. Pode ensinar e fazer crescer no discernimento somente quem tem familiaridade com esse mestre interior que, como uma bússola, oferece os critérios para distinguir, para si e para os outros, os tempos de Deus e sua graça”.
Discernimento e oração
Segundo o Papa, um bispo não pode dar como certo a posse de um dom tão elevado e transcendente, como se fosse um direito adquirido, sem cair num ministério infecundo. Ele destacou que é preciso implorar por esse dom continuamente como primeira condição para iluminar toda sabedoria humana, existencial, psicológica, sociológica e moral que pode servir na tarefa de discernir os caminhos de Deus para a salvação daqueles que lhes foram confiados.
“O discernimento nasce do coração e na mente do bispo através de sua oração, quando coloca em contato as pessoas e as situações confiadas a ele com a Palavra divina proferida pelo Espírito. É nessa intimidade que o Pastor amadurece a liberdade interior que o torna firme em suas escolhas e em seus comportamentos, pessoais e eclesiais. Somente no silêncio da oração é possível aprender a voz de Deus, encontrar os traços de sua linguagem e ter acesso à sua verdade”.
Discernimento e escuta
“O discernimento é um dom do Espírito à Igreja ao qual se responde com a escuta”, disse ainda o Papa. Ele frisou que o bispo é chamado a viver o próprio discernimento de Pastor como membro do Povo de Deus, numa dinâmica sempre eclesial, a serviço da comunhão. “O bispo não é um pai patrão autossuficiente e nem um pastor solitário amedrontado e isolado”.
“O discernimento do Bispo é sempre uma ação comunitária que não prescinde da riqueza do parecer de seus presbíteros e diáconos, do parecer do Povo de Deus e de todos aqueles que podem oferecer-lhe uma contribuição útil.”
Francisco convidou os bispos a cultivarem o comportamento de escuta, crescendo na liberdade de renunciar ao próprio ponto de vista para assumir o ponto de vista de Deus.
Discernimento, humildade e obediência
“A missão que os espera não é a de trazer ideias e projetos próprios, nem soluções abstratamente criadas por quem considera a Igreja um quintal de sua casa, mas humildemente, sem protagonismos ou narcisismos, oferecer o seu testemunho concreto de união com Deus, servindo o Evangelho que deve ser cultivado e ajudado a crescer naquela situação específica”.
O Papa explicou que discernir significa, portanto, humildade e obediência. “Humildade em relação aos próprios projetos. Obediência em relação ao Evangelho, ao Magistério, às normas da Igreja universal e à situação concreta das pessoas”.
Para Francisco, “o discernimento é um remédio contra a imobilidade do ‘sempre foi feito assim’ ou do ‘levar tempo’. É um processo criativo que não se limita a aplicar esquemas. É um antídoto contra a rigidez, pois as mesmas soluções não são válidas em todos os lugares”.
O Papa convidou os bispos a terem uma delicadeza especial com a cultura e a religiosidade do povo, cuidar e dialogar com o povo.
Crescer no discernimento
Por fim, o Santo Padre pediu que os bispos se esforcem para crescer no discernimento encarnado e inclusivo, que dialogue com a consciência dos fiéis em um processo de acompanhamento paciente e corajoso. “A atividade de discernir não é reservada aos sábios, aos perspicazes e aos perfeitos. Ao contrário, Deus muitas vezes resiste aos soberbos e se mostra aos humildes”.
E para progredir nesse discernimento, Francisco orientou educar-se à paciência de Deus e aos seus tempos. “Cabe a nós acolher todos os dias de Deus a esperança que nos preserva de toda abstração, pois nos permite descobrir a graça escondida no presente sem perder de vista a longanimidade de seu desígnio de amor que vai além de nós”, concluiu o Papa.